Plantio Direto, os primeiros passos

31/03/2023 - Atualizado há 12 meses


Franke Dijkstra

Nos primeiros anos de agricultura, nos Campos Gerais, parecia que estávamos no caminho certo. Mas essa sensação durou pouco, pois o cultivo no sistema convencional, com duas safras anuais e muitos preparos, trouxe sérias consequências.

Os múltiplos preparos estavam destruindo o nosso solo, o que nos fez pensar em muitas opções como terraceamento e até murunduns. Pensamos também na possibilidade de construirmos patamares, como faziam os antigos Incas. Mas todos estes métodos deixavam o solo desestruturado, comprometido!

Na época, as três cooperativas ABC (Capal de Arapoti, Batavo de Carambeí e Castrolanda, de Castro), através de suas comissões agrícolas decidiram contratar um técnico com conhecimento de novas técnicas para resolver os problemas que limitavam nossa continuidade na atividade. Assim, procuramos Hans Peeten, agrônomo recém-formado na Holanda, que logo aceitou o desafio para conosco buscar uma solução. Ele já era figura conhecida nossa. Já em 1972, Hans Peeten ainda como estagiário, passou por nossa região através da empresa HOWARD ROTAWETER, da Inglaterra, e em várias propriedades demonstrou um equipamento de plantio com enxada rotativa.

Na época, as cooperativas contavam somente com o Departamento Técnico da Cooperativa Central de Laticínios (CCLPL). Compreensivelmente, este setor estava mais focado nas áreas pecuárias (leite, aves e suínos). Para atender as necessidades dos agricultores foi então criado o departamento agrícola central, formado por um coordenador, um especialista em conservação de solos e um entomologista, além da presença do agrônomo Hans Peeten. A CCLPL atendia também muitos pequenos pecuaristas em Irati, inclusive com uma área de fomento, o que fez com que a cooperativa considerasse que Hans Peeten fosse o homem certo para este caso.

Os pequenos produtores precisavam aperfeiçoar suas tecnologias e foi recomendado para vários deles o uso de calcário. Mas eles não tinham as ferramentas/equipamentos, para espalhar o calcário. Isto motivou os agricultores, que tinham problemas muito mais urgentes, a reivindicar a criação de um DAT- Departamento de Assistência Técnica, específico para atender as necessidades do setor agrícola.  Assim, surgiu a ideia da criação de uma instituição subordinada aos agricultores. Nasceu, então, a Fundação ABC, com orientação do setor jurídico da Central, gerenciado por Dick Carlos de Geus.

Na época foram transferidos da CCLPL para a fundação ABC o especialista em conservação de solos e um fitopatologista, sendo que o coordenador não concordou com a transferência. Nós, produtores, pedimos que o agrônomo Hans Peeten também fosse integrado a Fundação ABC. Optamos por iniciar algo sem influências de outros interesses. Um crescimento de baixo para cima.

As primeiras áreas testadas em nossa região foram na fazenda de Manoel Henrique Pereira, mais conhecido pelo apelido: Nonô. Em seguida, na fazenda de Henrique Antônio de Geus e de Rodolfo João de Geus, todos já falecidos. Em Castrolanda, na propriedade de Wibe de Jager. Não se tinha na época conhecimentos de como controlar as ervas, o que impossibilitou a continuidade dos trabalhos.

Logo no início da fundação, Hans implantou um Campo Experimental com diversas culturas de inverno e no verão, no sentido contrário com as culturas da época. Com e sem adubo e ou herbicidas para pesquisar o benefício destas culturas sobre as subsequentes.

Deste experimento nasceram as melhores ferramentas para um plantio direto sustentável. Foi a base dos avanços posteriores. Uma pesquisa que convenceu os produtores e possibilitou a implementação de um sistema de rotação de culturas adaptadas às condições regionais. Este tipo de campo experimental comparativo foi adotado por produtores de todo o estado do Paraná por permitir avaliação regionalizada de desempenho de cada cultura.

O agrônomo holandês, com suas ideias revolucionárias, foi o motor de arranque para a integração entre os agricultores, pesquisadores e assistência técnica, motivando muitos produtores interessados em um novo rumo para a agricultura dos Campos Gerais. Isso gerou ciúme entre os técnicos e alguns desses técnicos chegaram a proibir Hans de publicar suas ideias e tecnologias, por tratar-se de técnicas que não estavam escritas, poderia ser algo muito perigoso, também pelo fato dele não ter o registro de agrônomo, o que não lhe permitiria escrever assuntos técnicos. Pois as ideias foram além dos conhecimentos, foram pela imaginação, e foram muito além e hoje são técnicas testadas e aprovadas, afirmavam os enciumados.

Vale ressaltar a contribuição dada pela indústria de equipamentos agrícolas que acompanhou a evolução do sistema de plantio direto adaptando máquinas e implementos às necessidades dos produtores; às indústrias de fertilizantes, defensivos e controles de pragas, que desenvolveram produtos adequados para atender as exigências do sistema.

E claro, reconhecer a grande contribuição da FUNDAÇÃO ABC, uma instituição do setor privado, sem imposições políticas, atendendo diretamente o interesse dos produtores, que acompanhou todos os passos do desenvolvimento do plantio direto, formando equipes de pesquisadores especializados e hoje atende a grande necessidade do grupo, como sonhavam todos desde o início.

Aqui a chuva não mais preocupa. É sempre bom conhecer as filosofias escritas, mas como a natureza é dinâmica devemos sempre estar abertos a novos rumos para nos adequar às necessidades de cada época. A pesquisa regionalizada foi a ferramenta do desenvolvimento do plantio direto e logo foi adotada em todas as regiões do Estado do Paraná. Fato que pude constatar na última viagem que realizei por nosso estado, no ano passado.

Avançamos muito, mas precisamos ter em mente que não podemos estacionar no estágio alcançado, mas continuar buscando novas tecnologias, respeitando a natureza e não pensando somente no lucro a ser obtido, mas em produção duradoura. A meta é uma troca justa do homem com a terra.

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