Fundação tem área experimental dedicada para biológicos

A área é parte de um trabalho que a instituição vem promovendo para intensificar os estudos na área e que já apresentou resultados reveladores quanto aos biológicos produzidos nas fazendas “on farm”

17/04/2023 - Atualizado há 1 ano


A Fundação ABC destinou uma área específica para entender a performance dos produtos biológicos no controle de doenças radiculares. O campo destinado para tal projeto está localizado em Ponta Grossa (PR) e conta atualmente com dez ensaios, distribuídos em sete glebas. Destes, dois ensaios são de longa duração, nos quais os pesquisadores querem entender o quanto os bioinsumos estão agregando no manejo das doenças, de uma safra para outra.

Os trabalhos na área começaram na safra 2022/2023, mas os estudos com os biológicos, como são popularmente chamados, já são realizados na fundação desde 1998. Segundo Luís Henrique Penckowski, pesquisador e gerente Técnico de Pesquisa, a implantação do campo foi necessária devido à grande oferta de bioinsumos, como agentes de controle biológico, inoculantes, biofertilizantes, bioestimulantes, condicionadores de solo e repositores de biodiversidade. “Consequentemente, os produtores começaram a nos questionar sobre a eficácia e embarcaram na ideia de produzir os bioinsumos na própria fazenda, para uso próprio. Diante disto, reorganizamos internamente os estudos nesta área e reformulamos os trabalhos do laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LabEF), que também ganhou novo nome”, contou.

Centro de Estudos e o novo laboratório

Com o objetivo de somar esforços para avançar nos estudos, no primeiro semestre de 2022 a Fundação ABC criou o Centro de Estudos de Bioinsumos, no qual todos os demais setores de pesquisa participam, interagindo com o novo Laboratório de Proteção de Plantas e Bioinsumos (LabP²Bio). Além dos serviços que já era prestados pelo antigo LabEF, a nova reformulação incluiu um diversificado portifólio de análises (figura 2), incluindo a de qualidade dos Bioinsumos e com uma variedade considerável de bioagentes (figura 3)

Figura 2 – Portifólio do Laboratório de Proteção de Plantas e Bioinsumos. *Análise fisiológica de sementes somente para pesquisa interna. Fundação ABC. Castro, 2023.

Figura 3 – Lista de bioagentes (fungos e bactérias) que podem ser analisados no Laboratório de Proteção de Plantas e Bioinsumos – LabP²Bio. Fundação ABC. Castro, 2023.

O próximo passo será trazer a ferramenta molecular para dar mais agilidade na obtenção dos resultados. Atualmente, estão sendo realizados estudos para oferecer a concentração e a identidade de alguns bioagentes através de genética molecular, tecnologia empregada em outros processos no LabP²Bio. Isto será possível através da recente aquisição feita pelo laboratório, de um equipamento que permite fazer uma reação para identificar e quantificar alvos específicos. “Este avanço, será muito importante, visto que a entrega final do laudo vai se dar de forma mais rápida”, destacou Daniele Tasior, pesquisadora do LabP2Bio.

Equipamento recém adquirido para agilizar os trabalhos de detecção e quantificação molecular de alvos específicos.

A qualidade dos “on farm”  

A produção de insumos biológicos na propriedade, para uso próprio, se dá através da replicação de produtos comerciais ou por meio de pré-inóculos vendidos por empresas especializadas, que podem comercializar também a infraestrutura necessária para esse tipo de produção. Apesar de existirem casos de sucesso na produção on farm, em algumas situações, em que a produção se dá de forma precária e ineficiente, o resultado são produtos sem qualidade (concentrações inadequadas e proliferação de contaminantes). A qualidade do produto biológico está diretamente relacionado com sua eficácia no campo, tanto para a promoção de crescimento, quanto para o controle de pragas e doenças.

 

Com isso, o primeiro trabalho realizado pelo laboratório, em conjunto com o setor de Fitopatologia, foi o de acompanhar mais de perto a produção “on farm” de Bioinsumos por alguns produtores ligados a Fundação ABC.

 

Segundo o time de pesquisa, o levantamento realizado ao longo de um semestre possibilitou diferenciar a produção na propriedade em três cenários, quanto ao nível tecnológico empregado durante a produção. No primeiro deles, um baixo nível tecnológico em relação aos insumos (inóculos com pouca ou nenhuma qualidade) e ao sistema de multiplicação (rudimentares, com utilização de multiplicação em caixas de água improvisadas, com sanitização ineficiente e sem monitoramento do processo). Ambiente com pouco ou nenhum cuidado durante o processo de produção e sem capacitação de equipe.

Já no segundo cenário, um médio nível tecnológico em relação aos insumos (inóculos com garantia de qualidade) e quanto ao sistema de multiplicação (menos rudimentares, ambiente composto por recipientes de inox, maior cuidado na manipulação durante a produção, no entanto, com sanitização pouco eficientes).

Por fim, no terceiro, um alto nível tecnológico em relação aos insumos (inóculos com garantia de qualidade, meios de cultura específicos) e quanto ao sistema de multiplicação (sistema produtivo semelhante ao processo de produção industrial, monitoramento do processo, sanitização eficiente, capacitação e treinamento de equipe).

No total, foram analisadas 413 amostras, provenientes dos diferentes cenários. Destas, 88% tiveram bactérias como bioagente de interesse e 12%, fungos. De forma geral, 59,8% das amostras apresentaram concentração mínima abaixo do aceitável (menor que 1,0 x 10⁸), 7,5 % apresentaram concentração acima do aceitável (maior que 1,0 x 10⁸) e 32,7% das amostras não apresentaram o bioagente de interesse no produto multiplicado. E mais um ponto importante, 48% do total das amostras continha impurezas, ou seja, estavam contaminadas.

A maior porcentagem (83%) de amostras com UFC (Unidade Formadora de Colônia) inferiores a 100.000.000/ml foi obtida de produção on farm no cenário 1 (baixo nível tecnológico). Além disto, neste cenário, 100% das amostras estavam contaminadas e 75% das amostras não continham o bioagente alvo da multiplicação.

Já nos cenários 2 e 3 houve a maior frequência de amostras com UFC superiores a 100.000.000/ ml, 37 e 31%, respectivamente. No entanto, uma quantidade considerável continuou apresentando contaminantes. Ainda nestes cenários, 25 e 40% das amostras analisadas, respectivamente, não continham o bioagente alvo da multiplicação

Conforme explica Senio José Napoli Prestes, pesquisador e coordenador do setor de Fitopatologia, os dados levantados mostram que está havendo dificuldades no processo de produção de bioinsumos on farm. “Principalmente, em relação a concentração adequada, sobrevivência e a ausência de contaminantes nos diferentes níveis de tecnologia empregado. Está claro que o nível tecnológico adotado interfere na qualidade da produção”, destacou ele.

 

 

 

 

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