Oídio e Mofo-branco em Soja: La Niña favorece o desenvolvimento dessas doenças

29/11/2022 - Atualizado há 1 ano


Para ocorrer o desenvolvimento de determinada doença em uma cultura é necessário que ocorra a interação entre três fatores: patógeno, hospedeiro e ambiente. A ocorrência do fenômeno atmosférico oceânico conhecido como La Niña, caracterizado por um resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico, vem a contribuir para o desenvolvimento de doenças como Oídio e Mofo Branco em soja, satisfazendo as exigências desses patógenos, os quais necessitam de temperatura do ar mais amena.

Oídio (Microsphaera diffusa) é favorecido por condições de baixa umidade relativa do ar e dias consecutivos sem precipitação. Enquanto o Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum) tem seu desenvolvimento favorecido por alta umidade relativa do ar e dias nublados com garoa, condições de tempo frequentemente observada na região de altitude elevada do grupo ABC, nos anos de La Niña (Figura 1).

O fungo biotrófico Microsphaera diffusa, patógeno causador do Oídio, depende de hospedeiros vivos para sua sobrevivência, crescimento e reprodução (Figura 2). Os sintomas típicos da doença são uma fina cobertura esbranquiçada pulverulenta (Figura 3), constituída de micélio e esporos do fungo, que podem aparecer em pequenos pontos ou cobrir toda a parte aérea da planta, principalmente as folhas, em ambas as faces, ocorrendo em pecíolos, hastes e vagens.

Sob condição de infecção moderada à severa, a cobertura de micélio e a frutificação do fungo reduz a área fotossinteticamente ativa da planta, dificultando a utilização da radiação solar para a fotossíntese e com isso reduzindo a produção de fotoassimilados e energia para a planta. Com isso as folhas secam e caem prematuramente, reduzindo o potencial produtivo da cultura.

A curva de progresso de Oídio da soja para as safras 2019/2020 e 2021/2022 é apresentada na Figura 4. A diferença entre a severidade nas duas safras deve-se a favorabilidade ao desenvolvimento da doença. A Figura 5 corrobora com a taxa de progresso nas diferentes safras, evidenciando o ambiente favorável ao desenvolvimento do Oídio na safra de 2019/2020.

A indicação para iniciar o controle do Oídio em soja, consiste no aparecimento dos primeiros sintomas da doença na lavoura, de modo geral, com sintomas iniciais no estádio fenológico de V5/V6 (Figura 6). A doença possui uma taxa de evolução bastante rápida em condições favoráveis, dificultando o controle do Oídio, principalmente após o fechamento das entre linhas. Motivo pelo qual, nossos ensaios são realizados com aplicações no estádio vegetativo (V5), o que na prática coincide com a aplicação de herbicida.

Os experimentos conduzidos pela Fundação ABC demostram importância significativa no controle do Oídio no programa de manejo, com aplicações realizadas no estádio vegetativo (V5). Nos tratamentos que não recebem a aplicação em V5, Oídio persiste até o final do ciclo da cultura, provocando queda prematura das folhas e redução de produtividade (Figura 6). A aplicação do fungicida na fase vegetativa da soja vem a contribuir de forma significativa no controle de Oídio, DFC de forma preventiva na Ferrugem Asiática da Soja (Phakopsora pachyrhizi).

Na Figura 7 é apresentado os dados obtidos nas safras de verão 2018/2019 a 2021/2022 nos campos experimentais de Itaberá -SP, Arapoti, Tibagi, Ponta Grossa e Castro – PR, perfazendo um total de 516 tratamentos estudados, em que observamos 84% destes dados com resposta positiva em produtividade, corroborando com os dados apresentados na Figura 6. Diante disso, conclui-se que o controle de Oídio contribui de forma significativa na manutenção do teto produtivo da soja.

O controle químico do Oídio com triazóis, carboxamidas e morfolinas apresentam maior eficiência no controle da doença, conforme resultados dos experimentos conduzidos na safra 2021/2022 no campo experimental de Arapoti – PR. Dentro desses grupos químicos, destaca-se os princípios ativos isolado e em misturas como: misturas com Carboxamidas, Fenpropimorfe, Difenoconazol, Ciproconazol, Propiconazol, Ciproconazol + Trifloxistrobina, Tebuconazol, Ciproconazol + Picoxistrobina,  Tetraconazol, Fluazinam e Tiofanato-metílico (Figura 8).

Os ingredientes ativos Fluazinam, Tiofanato-metílico e Boscalida, indicados para o controle do Mofo Branco no início da fase reprodutiva, apresentam efetividade no controle de Oídio, conforme destacado na Figura 8.  O amplo espectro de ação destes fungicidas, é extremamente vantajoso na estratégia de manejo destas doenças.

Figura 8 – Controle de Oidio (Microsphaera diffusa), obtido no experimento de eficácia de fungicidas: CBX = Misturas com Carboxamidas; FPM = Fenpropimorfe; DFZ + PPZ = Difenoconazol + Propiconazol; DFZ = Difenoconazol; CPZ + TFS = Ciproconazol + Trifloxistrobina; TCZ = Tebuconazol; TTCZ = Tetraconazol; FZN + THIM = Fluazinam + Tiofanato-metílico; FZN = Fluazinam; THIM = Tiofanato-metílico; BOSC + DMXS = Boscalida + Dimoxistrobina, para o controle de doenças em soja, safras de verão 2021/2022 em Arapoti – PR, cultivar BMX Zeus IPRO.

 

Na edição 42, publicada em novembro de 2020, foi detalhado as estratégias no manejo de Mofo Branco. Na publicação foi mencionado o grande desafio do Mofo Branco nas culturas do feijão e soja no Brasil, com destaque na dificuldade de se obter bons controles. Estudos demonstram que não existe controle total da doença, apenas redução da incidência nas plantas.

Por meio da Figura 9 são apresentados os resultados em relação ao controle químico de Mofo Branco com a utilização de diferentes fungicidas foliares específicos, considerada a principal medida de controle da doença. Essa prática deve ser adotada para proteger as plantas da infecção pelo patógeno, no período de maior vulnerabilidade da cultura, que compreende o início da floração ou fechamento das entrelinhas até o início de formação de vagens concomitante à presença de apotécios no solo. A primeira pulverização deverá ser feita nas primeiras aberturas das flores (R1), em condições favoráveis ao Mofo Branco, uma segunda aplicação se faz necessário com intervalo de 7 a 10 dias em relação a primeira, protegendo as plantas na fase mais vulnerável ao ataque da doença, isto é, até final de florescimento.

Figura 9 – Controle de Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum), obtido no experimento de eficácia de fungicidas: BOSC + DMXS = Boscalida + Dimoxistrobina; FZN = Fluazinam; FZN + THIM = Fluazinam + Tiofanato-metílico; PYDN = Procimidona; THIM = Tiofanato-metílico, para o controle de doenças em soja, safra de verão 2021/2022 em Ponta Grossa – PR, cultivar Brasmax Lança IPRO.

 

Na Figura 10 é apresentado o desenho esquemático para o controle de Oídio e Mofo branco em soja, importante ressaltar a importância dos momentos de aplicação para obter efetividade em controle destas doenças.

CONSIDERAÇÕES

  • Atentar aos primeiros sintomas de Oídio ou estádio fenológico de V5/V6 para iniciar o manejo com aplicação de fungicida.
  • Na escolha do fungicida para o controle Oídio é importante consultar os resultados da última safra para atualizar quanto a sua eficácia. Consulte o ABCBook, Fitopatologia Apresentação de Resultados safra verão 2022.
  • A atualização da previsão climática divulgada em novembro de 2022, mantém a condição de La Niña para o trimestre de NOVEMBRO-DEZEMBRO/2022-JANEIRO/2023, com fenômeno de moderada intensidade (http://sma.fundacaoabc.org/previsao_climatica). Diante deste cenário, em áreas com histórico de Mofo Branco a atenção deve ser redobrada.
  • Fase crítica para o desenvolvimento do Mofo Branco se dá entre o início de floração até início de formação de vagens, pode ser necessário entre uma e duas aplicações de fungicida específico para o controle de Mofo Branco, dependendo das condições meteorológicas nesta fase, concomitante à presença de apotécios no solo.

Atualizações

Previous Next