Produção de forragens na propriedade leiteira: Precisamos pensar no sistema de produção

Projeto iniciado em 2023 tem o objetivo de avaliar ao longo do tempo as diferentes alternativas de intensificação do sistema visando garantir a oferta de forragens de maneira sustentável

07/08/2023 - Atualizado há 12 meses


Este projeto que será apresentado foi planejado com o objetivo de atender atuais e futuras demandas dos produtores de leite e agricultores que comercializam forragens na nossa região. O foco é principalmente na intensificação agrícola voltada para produção de forragens. Na verdade, considerando os sistemas mais utilizados na nossa região, certamente concluímos que já estamos falando de sistemas altamente intensificados. São sistemas com curtos períodos de pousio, grande aporte e retirada de nutrientes, muitas operações e culturas diferentes sendo implantadas a todo momento.

A produção de leite na nossa região tem aumentado de maneira expressiva. Atualmente, ultrapassa 2,4 milhões de litros/dia, com crescimento de 8% ao ano. Como consequência, aumenta a demanda por forragens de alta qualidade, como silagem, feno, pré-secado, etc. Atualmente, a área de milho silagem é superior a 35.000 ha/ano. Certamente, a capacidade de produzir forragens durante o ano todo com alta produtividade e qualidade é o que permitiu esse aumento na produção de leite com rentabilidade. Agora é o momento de olhar para os próximos anos. Temos alta tecnologia, sistemas altamente intensificados e muito conhecimento sendo aplicado. É preciso, no entanto, destacar que os sistemas agrícolas são bastante pressionados e intensificados quando o objetivo é suprir a demanda de uma propriedade leiteira. O grande erro nesses casos é quando há falta de planejamento e decisões baseadas apenas no curto prazo.

A capacidade de produzir milho silagem e azevém com alta produtividade e qualidade é um dos principais fatores que permitiram a produção de leite na região chegar aos patamares atuais. Mas precisamos olhar para a frente: Como sustentar o aumento na produtividade de leite sem grandes possibilidades de expandir a área?

Nas áreas com objetivo de produzir forragens, há grande exportação de nutrientes e falta de cobertura do solo. Quando a reposição de nutrientes não é adequada, e não há cuidado com as operações realizadas na lavoura, em pouco tempo há o risco de compactação do solo e redução na produtividade e qualidade das forragens. Muitas vezes, a culpa por um ano insatisfatório na produção de silagem e pré-secado não é apenas do clima.

Mas, afinal, quais alternativas o pecuarista tem para garantir a alimentação do rebanho em médio e longo prazo mantendo a fertilidade do solo? Essa foi a grande motivação para a implantação desse projeto. Buscar avaliar diferentes sistemas e diversificação de culturas e acompanhar a evolução das questões físicas, químicas e biológicas no solo.

 

Há, também, alguns pontos positivos nos sistemas agrícolas voltados para a produção de forragens. Um dos principais é a disponibilidade do dejeto bovino. Os dejetos provenientes de confinamento para produção de leite normalmente são muito ricos em diversos nutrientes, e se usados de maneira adequada podem garantir excelentes níveis de fertilidade na lavoura. Outro ponto importante é que, apesar de não haver palhada normalmente nesses sistemas, é muito provável que a produção de raízes seja mais elevada que em sistemas exclusivamente agrícolas.

De modo geral, portanto, há ainda muitas especulações positivas e negativas, e é preciso avaliar no campo em longo prazo para ter as respostas a tantas perguntas.

O projeto: Intensificação sustentável para sistemas focados em produção de forragens.

O ensaio foi implantado nessa safra de inverno de 2023, e a intenção é conduzi-lo no mínimo até 2027. Abaixo, as descrições dos sistemas que estão sendo testados.

Ao total, no ensaio estão sendo testados 11 sistemas com diferentes configurações. Aqui iremos mostrar os 6 principais que diferenciam em relação à sequência de cultivos e diversificação.

1 – Sistema “padrão”: Silagem de milho e pré-secado de azevém

Esse sistema foi baseado na configuração padrão para produção de forragens em uma propriedade leiteira. Do ponto de vista da produção de forragens, é um sistema com alta eficiência, uma vez que há produção de silagem de milho e pré-secado de azevém de acordo com as melhores épocas de semeadura (Figura 1).

As dúvidas que surgem são em relação aos efeitos em longo prazo desse sistema se repetindo na lavoura. Também é importante avaliar alternativas para reduzir o período de pousio que ocorre entre o corte da silagem do milho e a semeadura do azevém.

2 – Redução do período de pousio e consórcio azevém + trevo persa

Uma possível alternativa para reduzir o período de pousio seria prolongar o período com azevém, atrasando até meados de outubro a semeadura do milho silagem, que consequentemente seria ensilado mais tarde, quase coincidindo com a semeadura do azevém novamente. Na prática, essa é uma situação que muitas vezes ocorre quando a semeadura do milho atrasa em virtude de condições climáticas e/ou operacionais. Além dessa mudança na janela de semeadura, esse sistema também propõe a inserção do trevo em consórcio com o azevém. O trevo é uma leguminosa, e nos sistemas com azevém e milho, a presença de uma leguminosa no sistema pode trazer muitos benefícios para o solo (Figura 2).

3 – Rotação com culturas de grãos

Em algumas propriedades ou talhões a inserção de culturas de grãos é possível e pode ser altamente benéfica do ponto de vista econômico. No entanto, se considerarmos a cultura do feijão, ou até mesmo a soja safrinha, teoricamente são cultivos que não trazem grandes benefícios para o sistema em si. São culturas com ciclo curto e baixa produção de biomassa. No entanto, em um sistema de produção de forragens, com aplicações de dejeto, esse cenário pode ser diferente e trazer novas informações do ponto de vista econômico e agronômico (Figura 3).

 

4 – Duas safras de milho silagem e aveia branca

Há condições em que, em função do clima menos favorável ao azevém, ou até mesmo em função de uma demanda muito grande de silagem para pouca área disponível, estão sendo cultivadas 2 safras de milho silagem em um mesmo ano agrícola. Em algumas situações, também pode ocorrer o cultivo de sorgo em substituição ao milho safrinha. No inverno, sobra pouco tempo disponível, no entanto é possível fazer cultivo de aveia branca para silagem, por exemplo. Esse é um exemplo de sistema altamente intensificado, porém intensificação exclusivamente econômica e de curto prazo. São condições em que o pecuarista precisa resolver a demanda de alimentos com urgência e não há muita margem para testar alternativas. Porém, em médio e longo prazo, esse tipo de cultivo pode ter consequências negativas para o solo? É uma das perguntas que pretendemos responder com a avaliação desse sistema (Figura 4).

5 – Duas safras de milho silagem e planta de cobertura no inverno

Partindo do sistema anterior e imaginando uma situação em que a área disponível precisa suprir uma demanda muito elevada de silagem de milho na propriedade. Supondo que não haveria necessidade de produzir gramíneas no inverno (produtor poderia comprar ou produzir em áreas mais distantes, por exemplo). Nesse caso, será que o cultivo de uma cultura cobertura com leguminosas em consórcio com outras espécies benéficas ao solo poderia melhorar as condições que permitam o solo suportar essa condição de 2 culturas de silagem por ano?

6 – Diversificação de forrageiras, plantas de cobertura e produção de grãos

Em um sistema com foco na produção de forragens para produção de leite, é praticamente impossível ou inviável pensar em passar um ano agrícola sem produzir silagem de milho. Mas, e seria possível combinar culturas de grãos, plantas de cobertura e diferentes coberturas de inverno em um sistema de rotação? Esse é o objetivo desse sistema (Figura 6).

Figura 6. Esquema representativo do sistema 6 ao longo de 3 anos com diferentes culturas.

Em todos esses sistemas, o planejamento é aplicar dejeto líquido bovino periodicamente, simulando doses e frequência de uma propriedade leiteira.

A Figura 7 demonstra as diferenças de uso da terra nos diferentes sistemas. Como pode ser observado, há grandes diferenças na diversificação e nos períodos ocupados por espécies dentro de um período de 3 anos de cultivo.

Além dos sistemas citados, outros sistemas estão sendo avaliados com diferentes objetivos. Pensando em uma análise futura onde seja possível avaliar a configuração geral de uma propriedade, e também como comparativo com as culturas anuais, estão sendo testados 2 sistemas com culturas semiperenes: Alfafa e tifton. Para isolar o efeito do dejeto, o sistema 1 também será conduzido sem a aplicação de dejeto, consistindo assim em um novo sistema avaliado. Para simular a condição do agricultor que comercializa forragens, também será testado um sistema com azevém e milho silagem em um sistema de rotação com outras culturas de grãos, também sem a aplicação de dejeto. E, com o objetivo de ter um comparativo com a produção de grãos, será testado um sistema voltado exclusivamente para a produção de grãos, em uma rotação de milho, trigo, cevada, soja e aveia preta.

Esse é um ensaio que tende a gerar muitos resultados importantes para a pecuária leiteira. Além dos aspectos agronômicos e econômicos já citados, também serão gerados resultados importantes do ponto de vista ambiental, com a possibilidade de obter informações relacionadas ao estoque de carbono no solo, emissão de gases de efeito estufa, evolução nos níveis de diferentes nutrientes no solo, além de outras informações importantes que são possíveis de ser obtidas quando temos um ensaio de longa duração com a geração de ambientes contrastantes em função das diferenças de cultivo. Também cabe ressaltar que ter esses dados relacionados à produção serão importantes no futuro, tendo em vista as tendências de mercado.

O ensaio contará também com parceria e ajuda financeira da Bayer Crop Science, pelo período de 3 anos. Está inserido dentro do projeto “Pro Carbono” da empresa parceira e gerará informações importantes também para outras regiões. Os resultados desse projeto serão divulgados rotineiramente, assim como visitas e dias de campo serão programadas para aproximar os produtores e discutir sobre as alternativas de sistemas de produção.

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