Azevém, resistência a herbicidas avança

06/08/2024 - Atualizado há 2 meses


O azevém (Lolium multiflorum) é uma planta rústica que se desenvolve no inverno e é utilizada principalmente como pastagem. Apresenta ciclo anual ou bianual, com fecundação cruzada, rota metabólica C3 e produção de até 3.500 sementes por planta, com desenvolvimento mais vigoroso durante os meses mais frios. Quando presente dentro das culturas como trigo e cevada, o azevém é considerado uma planta daninha e de acordo com levantamento realizado pelo setor de Herbologia na região dos Campos Gerais, possui fluxo de emergência predominante no mês de junho, podendo se estender de julho até outubro, quando a condição climática for favorável (Figura 1).

Quando não manejado, o azevém pode resultar em perdas na produtividade, sendo que 1 planta de azevém por metro quadrado reduz 2,8 kg.ha-1 na produtividade do trigo. Além da capacidade competitiva do azevém com as culturas do trigo e cevada, a presença de biótipos resistentes pode tornar o cenário mais desafiador, pois restringe as opções de herbicidas tanto na dessecação pré-semeadura como na pós-emergência das culturas.

No atual sistema de produção, é comum a presença do azevém resistente ao herbicida glyphosate, mas em levantamento realizado pela Embrapa Trigo (Antunes, 2013) foi observado que mais de 30% das lavouras no Rio Grande do Sul apresentam resistência múltipla, com biótipos resistentes a graminicidas (inibidores da ACCase) e herbicidas inibidores da ALS (como iodosulfuron), além do glyphosate. Mais recentemente, em 2023, um novo levantamento apresentado pelo pesquisador da Embrapa Trigo Leandro Vargas, mostra um crescimento constante no registro de plantas de azevém resistentes aos inibidores da ACCase (Figura 2).

O primeiro passo ao suspeitar que a lavoura está com plantas de azevém resistente é realizar o monitoramento após a aplicação de herbicidas. Quando se trata de resistência, a presença de plantas mortas ao lado de plantas vivas ou rebrotando (Figura 3) é um indicativo que pode ser necessário buscar outro herbicida com mecanismo de ação alternativo.

Antes da semeadura (“dessecação”) o controle de azevém é realizado em dois momentos sendo o primeiro, duas a três semanas antes da semeadura, e o segundo, um a dois dias antes da semeadura. Na primeira dessecação recomenda-se utilizar a associação de glyphosate com inibidores da ACCase (clethodim) e na segunda herbicidas inibidores do fotossistema I (diquat) ou inibidores da glutamina sintetase (glufosinato de amônio). Mas vale lembrar que para os herbicidas inibidores de ACCase é necessário um intervalo entre a aplicação e a semeadura dos cereais de inverno, pois quando aplicados muito próximos da semeadura, podem causar redução da população de trigo ou cevada, portanto, recomenda-se que os inibidores de ACCase sejam aplicados com antecedência de uma a duas semanas em função do herbicida escolhido.

No caso de azevém resistente a glyphosate e herbicidas inibidores de ACCase a semeadura de trigo ou cevada pode ficar inviável, pois o controle fica restrito ao uso de diquat ou glufosinato, que possuem ação somente sobre plantas de azevém muito pequenas, antes de iniciar o perfilhamento, e com altos índices de rebrote.

Nas lavouras onde ainda é possível utilizar graminicidas na dessecação, a utilização de herbicidas residuais no dia da semeadura é uma ferramenta fundamental e que auxilia no controle do banco de semente (Figura 4). Sem o uso de herbicidas pré-emergentes, o manejo de azevém na pós-emergência dos cereais de inverno fica novamente restrito a herbicidas inibidores da ALS ou da ACCase que, como citado acima, possuem casos de resistência.

Então, realizar o monitoramento das lavouras e ter acesso a informações que auxiliem na tomada de decisão podem ser hoje a única ferramenta com o avanço de plantas daninhas resistentes.

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