Estudos recentes do Setor de Solos e Nutrição de Plantas mostram como o uso de inoculantes em milho podem permitir reduzir totalmente o uso de adubos fosfatados, como?
06/09/2023 - Atualizado há 2 anos
Na edição 49 de JUL/AGO 2022 escrevemos sobre a estratégia de custo quanto aos fertilizantes naquela época de riscos de abastecimento pela Guerra da Ucrânia. Mas independente deste cenário temos uma linha de estudo em áreas de pecuarista, que normalmente tem níveis elevados de fósforo (P) no solo, com base em dar segurança na redução da adubação aproveitando estas condições. No final da matéria comentamos que tivemos um resultado de aumento de quase 1.000 kg de milho com uso de inoculante ‘solubilizador’ de P e sem uso de fertilizante fosfatado, tanto que este resultado nos incentivou a abrir um projeto nesta última safra específico de uso destes solubilizadores e agora estamos trazendo estes dados.
Primeiro item técnico a ser discutido é onde esta redução de P poderia ser feito, estamos considerando neste caso áreas com níveis altos de P (acima de 40 mg dm-3 de P em resina por exemplo) e para esta redução total sugerimos ainda mais uma margem (CDC) de 50% (no caso 60 mg de P) além, de que sejam áreas que recebam uso de dejetos, que é rotina no caso dos pecuaristas de bovinos de leite.
Nesta safra (2022/23) abrimos as empresas parceiras e que tem tecnologias de solubilização de P, especialmente inoculantes, a ideia de um estudo nesta linha. Conduzimos então um projeto com 19 tratamentos, incluindo diferentes tipos de inoculantes e combinações de aplicações e demais tecnologias. O estudo foi conduzido em parceria com pecuarista próximo ao CDE de Castro em que o solo tinha estas premissas acima (teor elevado de P e aplicação de DLB) e com milho para finalidade de silagem e aproveitou-se para outras avaliações como desenvolvimento de raízes e produção de grãos.
Na Figura 1 observamos as raízes de milho coletadas na fase de início de enchimento de grãos, é visível a diferença de maior volume e número de raízes finas com uso de inoculantes em relação aos tratamentos controle. Este efeito temos observado e sugerimos ser o maior efeito direto na planta, causando um benefício de maior aproveitamento do fósforo mais de outros nutrientes e água. Era o que precisávamos de ajuda nestes casos que ainda havia uma desconfiança quanto a capacidade das plantas de milho aproveitar os nutrientes do solo, especialmente o P que está em níveis elevados, mas que se colocava que havia resposta a adubação fosfatada.
Nas Figuras 2 e 3 vemos os resultados de produtividade (grãos e leite estimado) de 7 tratamentos selecionados dos 19 estudados. Há uma tendência de aumento de produtividade de grãos e de leite estimado por hectare com uso de inoculantes corroborando com as visualizações de desenvolvimento radicular. Este efeito até fica significativo estatisticamente ao fazer a análise de produtividade de grãos com todos os tratamentos. O fato é que este ano pegamos até uma tendência de área de alta fertilidade ter produtividade menor com uso de adubos fosfatados (tratamento 1, foi a menor média de todas) demonstrando que nem sempre teores elevados de P e com adubação temos os melhores resultados.
Outras observações que fazemos destes resultados e que juntamos com mais projetos na mesma linha são da forma de aplicação, há uma pergunta se pode ir via tratamento de sementes (TS) ou melhor via sulco de plantio (pulverização no sulco da semente), vemos que nos tratamentos 3 e 4 no caso de B. megaterium + B. subtilis onde temos maior segurança destas repostas de produtividade obtida pelo volume de trabalhos realizados, há uma indicação de aumento de dose no caso de sulco de plantio por hectare (de 100 para 150 ml). Já no caso de uso de micorrizas (tratamento 6) inúmeras restrições de compatibilidade com produtos de TS do milho, segundo a empresa fabricante. Importante atender estes detalhes que impactam em resposta técnica e custos de aplicação. Outra lógica da resposta de uso destes microrganismos é que a resposta é maior de acordo com o menor uso de fertilizante mineral, similar ao que acontece na soja quando se aplica adubos nitrogenados, em vez de ajudar atrapalha. Outra questão mais recente e que estamos estudando é a compatibilidade entre os microrganismos e uma possível sinergia entre estes e compostos biostimulantes, como observado em alguns tratamentos deste estudo (disponível no AbcBook para quem tem acesso a esta plataforma).
Está lançado a campanha desafiadora aos pecuaristas de plantio de milho sem uso de adubo fosfatado!!! Sugerimos uso de sulfato de amônio com adubo base (sugerimos não usar ureia pura) para o suprimento de N e S na fase inicial do milho, essencial nestes casos.