A área agrícola do grupo ABC já ultrapassou 600 mil hectares de área física. Entre os principais cultivos, o milho tem grande destaque com cerca de 200 mil hectares de área plantada, metade dessa área representada pelo milho safra e a outra pelo milho segunda safra.
Grande parte do milho safra é cultivado nos estados do Paraná e São Paulo, com a janela de semeadura entre o final do mês de agosto e o início do mês de outubro, tanto para produção de grãos como para produção de silagem. Para esse último propósito a área de cultivo tem aumentado devido à grande produção de leite na região.
Nesse contexto, o milho é uma cultura de alto investimento com elevado potencial produtivo na região, no entanto, alguns fatores podem limitar este potencial, sendo fundamental um bom planejamento desde a escolha do genótipo, época de semeadura, manejo nutricional e o acompanhamento da previsão climática, importante ferramenta para traçar essas estratégias de manejo e assim mitigar os fatores limitantes da produtividade como a ocorrência de pragas.
Na última previsão climática publicada em 21 de junho de 2024 pelo setor de Agrometeorologia da Fundação ABC (disponível no abc book), os modelos indicam que os meses de julho, agosto e setembro de 2024 terão o retorno da condição de neutralidade climática, com chuvas abaixo da média histórica e temperatura média do ar ligeiramente acima do padrão climatológico.
Esta condição pode favorecer a ocorrência de pragas com alto potencial de danos a cultura do milho como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), o percevejo barriga-verde (Diceraeus melacanthus) e a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis).
Para evitar os potenciais danos dessas pragas é importante adotar algumas estratégias de manejo:
Lagarta-do-cartucho: a lagarta pode ocasionar injúrias desde a emergência da cultura, cortando plântulas recém-emergidas e reduzindo a população de plantas, raspando folhas e danificando os cartuchos das plantas e tardiamente também podem atacar a espiga na sua inserção junto a planta ou diretamente no grão.
Para o manejo adequado da lagarta-do-cartucho em milho destacamos a necessidade da dessecação antecipada da cultura antecessora, o tratamento de sementes com inseticidas do grupo químico das diamidas e a pulverização foliar de inseticidas conforme os níveis de ação sugeridos para os diferentes eventos Bt.
Percevejo barriga-verde: Apesar de sua maior ocorrência no milho da segunda safra (após o cultivo de feijão ou soja), os plantios de milho na primavera quando seguidos de invernos amenos, tem apresentado populações que podem causar danos significativos na cultura, especialmente nos seus estádios iniciais de desenvolvimento. O percevejo é um inseto sugador que ocasiona distúrbios fisiológicos nas plantas de milho, suas injúrias podem acarretar perdas de produtividade superiores a 30%.
Importante considerar que o percevejo barriga-verde está presente no sistema de produção, ou seja, o seu controle não deve ser realizado apenas na cultura do milho, mas a partir do manejo outonal de plantas daninhas (potenciais hospedeiras do inseto) e na dessecação antecipada das culturas de cobertura no inverno.
Além dessas práticas, é imprescindível a utilização do tratamento de sementes com inseticidas do grupo químico dos neonicotinóides como clotianidina, imidacloprido ou tiametoxam, aliado às amostragens na pré-semeadura do milho para determinar a população da praga, e em condições de média e alta infestação (acima de 1 percevejo/m²) recomenda-se a pulverização foliar de inseticidas logo após a emergência. Lembrando que o controle desse inseto, através da pulverização foliar de inseticidas, deve ser realizado entre os estádios VE a V3, período de maior suscetibilidade das plantas ao ataque do percevejo barriga-verde.
Cigarrinha-do-milho: Nos últimos anos a cigarrinha, Dalbulus maidis, se tornou uma das principais preocupações dos agricultores e pecuaristas que cultivam milho. Por se tratar de um inseto-vetor de patógenos como o enfezamento pálido (espiroplasma), enfezamento vermelho (fitoplasma) e o vírus da risca, dependendo da época de infecção e suscetibilidade do genótipo podem ocasionar perdas de até 100%, além dos danos diretos pela sucção da seiva.
O sistema atual de cultivo do milho em duas safras (safra e 2ª safra) permite que haja uma ponte verde da cultura, além disso, a presença de plantas voluntárias (milho tiguera) é fator determinante para a permanência dos patógenos e do vetor durante todo o ano. No Brasil, o milho é o único hospedeiro conhecido da cigarrinha D. maidis, permitindo que o inseto se abrigue, alimente e reproduza, completando assim seu ciclo biológico.
O manejo do complexo de molicutes e vírus requer ações preventivas para redução das fontes de inóculo e para redução dos níveis populacionais da cigarrinha, ações estas que devem ser adotadas por todos os produtores de milho na região:
A utilização de inseticidas, quando realizada de forma adequada, levando em consideração a presença da praga e a reação dos genótipos de milho aos enfezamentos, é opção imprescindível no manejo da cigarrinha-do-milho. Vale ressaltar que as pulverizações devem ser realizadas desde o início do desenvolvimento da cultura até o estádio de 8 folhas (V8), período de maior suscetibilidade da cultura aos patógenos transmitidos pela cigarrinha, o número de pulverizações e o intervalo entre elas vai depender da tolerância dos genótipos de milho aos enfezamentos.
A Mancha em Rede é um desafio na cultura da Cevada, causada pelo ascomiceto Pyrenophora teres (anamorfo: Drechslera teres), ocasiona prejuízos em diversos países, podendo infectar folhas, caules e grãos de cevada gerando perdas de rendimento e qualidade, especialmente na cevada destinada à maltagem.
Por se tratar de um patógeno necrotrófico, o inóculo inicial da doença é uma herança da safra anterior, devido sua sobrevivência em resíduos culturais por meio dos pseudotécios (estrutura de resistência), além disso, podem sobreviver em sementes e resíduos de palha no campo, representando a fonte primária de inoculação, sendo importantes meios de dispersão do fungo.
Sob condições ambientais favoráveis como temperaturas amenas e molhamento foliar ocorre o início do processo de infecção por meio da germinação dos conídios ou ascósporos (esporos do fungo) presente na superfície da folha. Esse processo e posterior desenvolvimento do fungo pode ocorrer ainda em estádios iniciais da cultura, principalmente tratando-se de cultivares suscetíveis (Figura 2). De 3 a 5 dias após a infecção do patógeno podem ser observados os sintomas de clorose e necrose de característica marrom e reticulado (Figura 1). Desse modo, devido a redução da área fotossintética da planta, há uma redução nos parâmetros quantitativos e qualitativos dos grãos da cultura.
O setor de Fitopatologia da Fundação ABC, conduziu experimentos com o objetivo de mensurar a eficácia dos fungicidas disponíveis no mercado para o controle de mancha em rede em cevada durante as últimas cinco safras, 2019 a 2023. Notou-se diversidade de condições ambientais, resultando em variação expressiva da pressão da Mancha em Rede na região de Castro, Paraná.
Em um cenário no qual contamos com cultivares suscetíveis a doença, patógeno de caráter necrotrófico (presente no sistema de produção) e condição ambiental favorável, o controle químico assume relevância. Dessa maneira, analisou-se cinco grupos químicos, carboxamidas, dicarboxamidas, triazóis, triazolintiona e multissítios, a fim de compreender a eficácia diante do ambiente em exposição.
Para mensurar o acúmulo de doença ao longo do tempo, fez-se o uso da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), a qual é adimensional e indica que quanto menor o valor, menor a quantidade de doença num dado intervalo de tempo. A AACPD de cada safra foi disposta na Figura 3, a qual indica menores progressos de mancha em rede nas safras 2019 e 2020, cujo valor foi de 811 e 472, respectivamente.
Em 2021 e 2023, os valores equivaleram a 1086 e 1072, nesta ordem e o destaque deu-se para a safra 2022, cujo maior progresso da doença refletiu em AACPD na ordem de 1646, corroborando com condições ambientais presente nestas safras, evidenciando elevado número de dias com precipitação e temperatura do ar favorecendo o desenvolvimento da mancha na cevada.
Após a incidência das primeiras lesões de mancha na lavoura fica a cargo dos fungicidas entrarem em ação para a manutenção da área foliar da cultura. Neste sentido quando analisamos a eficácia dos diferentes grupos químicos, os fungicidas a base de triazolintiona (protioconazol) apresentaram as melhores respostas em controle da doença, com uma média de 93% durante as cinco safras em questão, conforme Figura 4.
A depender da pressão da doença, menores severidades resultam em maiores percentuais de controle, como foram constatados com os fungicidas que possuem carboxamidas (fluxapiroxade, pidiflumetofen ou benzovindiflupir) na formulação, apresentando controle médio de 78%, seguido por dicarboxamida (iprodiona), com um desempenho consistente no decorrer das safras estudadas, com controle na ordem de 77%. Compreendendo estes grupos químicos duas opções importantes para compor o manejo durante o ciclo da cultura.
Dentre os produtos à base de Triazóis, demonstraram maiores dispersões nos dados e o controle médio equivaleu a 58%. Dentre essa variação de controle, fungicidas que possuem ingrediente ativo isolado em sua formulação apresentaram menores respostas em controle. Por sua vez, fungicidas com formulações duplas e triplas de estrobilurinas em associação ao triazol apresentaram um acréscimo em controle da doença.
Os menores valores de eficiência foram observados com os fungicidas multissítios (Mancozeb e Clorotalonil) aplicado de forma isolada, estes atingiram controle médio igual a 53%.
Dentre os três ingredientes ativos caracterizados como complementos para compor as misturas com os fungicidas sítio específicos para o controle mancha em rede, a Iprodiona seria a principal estratégia nos casos da aplicação curativa. No cenário de aplicação preventiva o Mancozeb ou Clorotalonil podem ser associados em misturas com as Carboxamida e Triazóis.
Os diferentes grupos químicos de fungicidas apresentaram controle de Mancha em Rede em cevada entre 12 a 95%, evidenciando a variabilidade em eficácia a depender do fungicida aplicado.
Uma das formas de aumentar a eficiência da propriedade é utilizando melhor os recursos forrageiros, resultando em menores custos na produção de alimentos, obtendo-se assim maiores lucratividades na produção de leite.
O azevém é uma cultura de inverno bastante exigente em solos, adubação e umidade. Quando suas necessidades são atendidas, resulta em alta produção de massa e qualidade.
A região dos Campos Gerais do Paraná, onde está compreendida a maior parte da área destinada a produção de forrageiras de inverno do Grupo ABC, possui condições edafoclimáticas favoráveis para a produção de azevém.
No Inverno 2023, foram cultivados 32.500 ha de azevém. Diferentemente das demais bacias leiteiras da região Sul do Brasil (PR, SC, RS), os Campos Gerais utilizam o azevém para produção de pré-secado, e não pastejo ou corte verde. Importante salientar que o ponto de corte ou de entrada desses dois propósitos é tecnicamente diferente.
Para pastejo ou corte verde o ponto de entrada dos animais no pasto de azevém, ou de corte, é realizado quando o dossel está com uma altura média de 25 cm. Já o ponto de corte do pré-secado é posterior ao pastejo, ou seja, quando as plantas de azevém estão na fase de pré-emissão das inflorescências, ao final da elongação (GS37).
Bem, já falamos sobre o ponto de corte ou entrada nos dois propósitos, mas, qual a altura de corte mais indicada para produção de azevém pré-secado, objetivando um maior potencial produtivo com qualidade?
Para responder a essa questão, foi conduzido um trabalho na Safra de Inverno 2023. A altura da planta de azevém no momento dos 1º e 2º Cortes estão representadas na Figura 2. Com o objetivo de quantificar a altura de rebrote (Figura 4) para cada altura de corte, foram obtidas as medidas de altura de planta aos 2 e 10 dias após o 1º Corte (Figura 3).
Verificamos que, quando cortamos o azevém a 0 cm de altura (rente ao solo), a planta demora mais tempo para se recuperar, iniciando o rebrote de forma mais tardia, quando comparado aos valores dos demais tratamentos (5, 10 e 20 cm).
Foi realizada a análise bromatológica (qualitativa) de todos os tratamentos no Laboratório da Fundação ABC (abcLab) através da espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS), reconhecida como uma valiosa técnica analítica, rápida, precisa, não destrutiva, para determinar com acurácia a composição química de muitas gramíneas e leguminosas forrageiras. A proteína bruta (PB) média obtida no 1º Corte e 2º Corte foi, respectivamente, de 22,35% e 17,52%. A matéria seca (MS%) média foi de 13,83% (1º Corte) e 14,85% (2º Corte).
A fibra em detergente ácido (FDA) média foi de 30,55% (1º Corte) e 34,03% (2º Corte). A fibra em detergente neutro (FDN) média foi de 50,52% (1º Corte) e 50,77% (2º Corte). Esses dados comprovam o que, na maioria das vezes observamos em nossa rede de ensaios forrageiros de inverno, 1º Corte apresentando maior qualidade que o 2º Corte. Outro dado qualitativo obtido foi o Resíduo Mineral (RM) representado na Figura 5. Quando cortou o azevém rente ao solo (0 cm de altura), o valor do RM foi 42% maior quando comparado com a média dos outros tratamentos (5, 10 e 20 cm). Esse aumento do RM é um indicativo de que mais resíduo de solo foi adicionado no pré-secado, fato esse indesejado pelo produtor.
A análise quantitativa da produção de pré-secado de azevém foi feita através dos dados de Massa Verde (MV) (Figura 6) e Massa Seca (MS) (Figura 7); e a análise qualitativa foi realizada através dos dados da Estimativa de Produção de Leite por tonelada de pré-secado (Figura 8) e por hectare (Figura 9).
A produção de massa verde e massa seca por hectare é inversamente proporcional à altura de corte no 1º Corte e diretamente proporcional no 2º Corte. No 1º Corte, quanto menor foi a altura de corte, maior foi a produção de MV (0 cm = 53.407 kg.ha-1 vs. 20 cm = 19.485 kg.ha-1) e MS (0 cm = 9.040 kg.ha-1 vs. 20 cm = 2.734 kg.ha-1). Porém, no 2º Corte, quanto menor foi a altura de corte, menor foi a produção de MV (0 cm = 12.541 kg.ha-1 versus 20 cm = 47.369 kg.ha-1) e MS (0 cm = 1,615 kg.ha-1 versus 20 cm = 7.268 kg.ha-1).
Em relação a qualidade do pré-secado de azevém produzido, quando analisamos o valor médio dos dois cortes através dos dados de produção de leite estimado por tonelada de pré-secado (Figura 8), obtivemos maiores valores absolutos nas alturas de corte de 5 e 10 cm, quando comparado com as alturas de corte de 0 e 20 cm. Os valores são de 1.818 kg.T-1 MS (0 cm), 2.067 kg.T-1 MS (5 cm), 2.171 kg.T-1 MS (10 cm) e 1.945 kg.T-1 MS (20 cm).
A qualidade do pré-secado de azevém no 1º Corte com altura de 0 cm (1.689 kg.T-1 MS) foi inferior às demais alturas (5, 10 e 20 cm). Isso se deve pelo recolhimento do material vegetal de menor qualidade nutricional devido a maior participação de colmos na composição total do pré-secado obtido, ou seja, com uma relação folha/colmo menor.
Também podemos reforçar o que já foi dito anteriormente, 1º Corte apresentando maior qualidade que o 2º Corte, onde a média obtida da qualidade do pré-secado no 1º Corte foi de 2.328 kg.T-1 MS e a média do 2º Corte foi de 1.672 kg.T-1 MS.
Para finalizar a discussão dos resultados obtidos, analisaremos a soma do valor de leite estimado produzido por hectare, em cada altura de corte (Figura 9). Em ordem decrescente, os valores e suas respectivas alturas de corte foram: 9.811 kg.ha-1 (10 cm), 9.605 kg.ha-1 (5 cm), 9.204 kg.ha-1 (0 cm) e 8.528 kg.ha-1 (20 cm). Vale ressaltar que o 2º Corte foi realizado com altura fixa de 5 cm (resíduo) e foi observado acamamento das plantas de azevém na altura de corte de 20 cm no momento do 2º Corte.
Portanto, a sugestão de altura de corte para silagem pré-secada de azevém fica no intervalo de 5 a 10 cm (resíduo). Paralelamente a isso, é importante lembrar as principais questões operacionais envolvidas no processo, ou seja, além de acertar no ponto de corte e na altura de corte, é importante ter cuidado no momento do enleiramento do material para não recolher terra, evitando assim formação de poeira (resíduo mineral) e ocasionando a quebra frequente do equipamento utilizado nessa operação. É sugerido não espalhar o azevém na presença de orvalho (muito cedo), sendo sugerido no intervalo das 10h até as 15h.