25/11/2022 - Atualizado há 2 anos
Agora que você já sabe que vale a pena dessecar (recomendo ler a coluna “Quanto vale?”), vamos calibrar o olho para identificar o ponto de dessecação no campo. No trigo e na cevada não existe um sintoma visual que indique a paralisação do acúmulo de matéria seca (como exemplo, a formação da camada negra no grão de milho), então levamos em conta características como a descoloração do pedúnculo (que é a parte do colmo logo abaixo da espiga) e a textura do grão.
Um pouco antes da maturação fisiológica, as folhas começam a secar mas as espigas permanecerem verdes, o que é fundamental para o completo enchimento dos grãos. As espigas, ao alcançarem a maturação fisiológica, adquirem uma cor amarelada, a qual equivale a cor dos grãos no seu interior. Na sequência, e de uma forma bastante rápida, as espigas e seus grãos mudam para uma cor amarelo-dourada, mas ainda mantendo altas porcentagens de umidade. A partir da maturação fisiológica os grãos perdem umidade para alcançar a maturação de colheita.
Outra característica que auxilia na identificação da maturação fisiológica no trigo ou na cevada é a cor dos nós, enquanto as folhas e o colmo já amarelaram, somente os nós ainda apresentam a cor “verde” (Figura 1). Quanto ao desenvolvimento dos grãos, é essencial observar aqueles que estão localizados na região central da espiga, pois ocorre diferença na maturação dos grãos dentro da mesma espiga. Na maturação fisiológica (GS 87 da escala de Zadoks et al., 1974) esses grãos devem estar completamente “amarelos”, em transição para a cor “dourada”, a massa interna dos grãos já não está leitosa e podemos deformar o grão exercendo pressão sobre ele, assim uma marca deverá ficar sobre ele que é identificada como “marca da unha”, tanto para trigo como para cevada (Figuras 2 e 3). Após essa fase o grão fica duro, dificilmente marcado pela unha, e as plantas não apresentam tecidos verdes, indicando a finalização do ciclo da cultura à campo.
A época preferencial para realizar a dessecação pré-colheita do trigo e da cevada é quando o grão está com massa pastosa dura (estádio GS 87) e a colheita pode ser realizada 7 dias após a aplicação.
Então, como identificar no campo a época correta de aplicação ? Para uma boa amostragem de plantas no campo é necessário: coletar 30 plantas ao acaso, da mesma cultivar, época de semeadura e de áreas que representem a situação do talhão; identificar a época no colmo principal (planta-mãe), desprezando os perfilhos e verificar se mais de 50% das plantas apresentarem as características visuais que descrevem o estádio GS 87, correspondente a maturação fisiológica (pedúnculos maduros e de cor amarela, mas os nós dos colmos ainda se mantem verdes; espigas e glumas de cor amarela; observar o desenvolvimento dos grãos localizados na região central da espiga; quando pressionamos os grãos com a unha, uma marca deverá ficar sobre ele).
O herbicida registrado para dessecação pré-colheita do trigo e da cevada é o glufosinato na dose de 350 g i.a.ha-1, com adição de 0,25% de óleo vegetal ou mineral e aplicação realizada a partir do estádio de desenvolvimento em que os grãos estiverem amarelos (massa mole) até atingir o estádio de grãos dourados (massa dura) (SEAB, 2021).
Quando a dessecação é realizada mais próxima da colheita, como no estádio GS 87 onde os grãos estão em massa pastosa dura, as folhas em processo de senescência e os colmos maduros, o efeito visual na dessecação é menor, pois apenas acelera o processo de perda da água pelo grão. Porém, na dessecação realizada um pouco mais cedo, em GS 85 com os grãos em massa pastosa mole, é possível observar o efeito da dessecação sobre as folhas e o colmo.
Em ensaios conduzidos pela Fundação ABC, a dessecação pré-colheita realizada com glufosinato no estádio GS 87 resultou em grãos com germinação e vigor similar ao da testemunha não dessecada, enquanto diquat interferiu negativamente no vigor e glyphosate reduziu a germinação das sementes de trigo. É importante ressaltar que somente o glufosinato apresenta registro para dessecação pré-colheita em trigo e cevada (SEAB, 2021) e os herbicidas diquat e glyphosate não possui registro nessa modalidade para essas culturas.
Além dos benefícios citados na coluna “Quanto vale?”, a dessecação dos cereais também permite o escalonamento da colheita, o que auxilia na logística de máquinas dentro da propriedade. Assim, essas ferramentas são necessárias quando se busca garantir o máximo potencial produtivo do trigo e da cevada, mantendo a qualidade do grão.
O setor de Herbologia publicou recentemente o livro “Dessecação pré-colheita de trigo e cevada: do estádio de aplicação aos benefícios” e o material completo está disponível para a assistência técnica da Fundação ABC no portal ABC Book.
Figura 1. Característica do colmo de trigo na maturação fisiológica (GS 87), com colmos maduros e nós ainda apresentando cor verde. Fundação ABC, 2022.
Figura 3. Etapas da maturação dos grãos de trigo a partir do estádio leitoso, considerando a dureza do grão e seu conteúdo interno. Fundação ABC, 2022.