Excesso de chuva e recorde de incêndios florestais: o papel do bloqueio atmosférico no clima atual

Confira também o que podemos esperar para o segundo semestre

29/07/2024 - Atualizado há 3 meses


 

As condições meteorológicas extremas registradas nos últimos meses sobre o Brasil têm chamado atenção devido ao grau de severidade e abrangência. Eventos extremos de chuva ao longo do mês de maio no estado do Rio Grande do Sul (acima de 600mm), que provocaram inundações em várias cidades, deslizamentos de terra, destruição de pontes, casas e rodovias e perda de centenas de vidas. 

Por outro lado, no restante do território brasileiro destacou-se as altas temperaturas no outono e início do inverno, associado a baixa saturação de vapor de água na atmosfera e um veranico de pelos menos 30 dias, com consequências negativas para os setores de energia, saúde,  e agropecuária e meio ambiente, com recorde de focos de incêndio florestal no Pantanal.

Estas condições meteorológicas tão distintas podem ser explicadas pela atuação persistente de uma intensa e ampla massa de ar seco, associada a um sistema de alta pressão atmosférica, que deu origem a um evento meteorológico conhecido como bloqueio atmosférico.  Esse tipo de evento não é algo raro e pode ocorrer em qualquer época do ano, porém é mais frequentes durante os meses de outono e inverno e menos frequentes na primavera e sobretudo no verão. 

Nos últimos dois meses foram registrados a presença de dois bloqueios atmosféricos, sendo o primeiro iniciado em maio, com duração média em torno de 23 a 26 dias consecutivos sem nenhum registro de chuva. O segundo ocorreu no começo de junho, que superou o grau de severidade do primeiro evento e teve duração de pelo menos 30 dias em grande parte do Brasil.  

Muitos estudos têm mostrado que eventos extremos como tempestades severas, vendavais, ressacas, ondas de calor e frio entre outros, apresentaram maior frequência e intensidade nos últimos anos, o que nos leva a projetar esta mesma tendência para os próximos anos. Por isso, destacamos nesta matéria, a importância dos nossos leitores aprofundarem o entendimento teórico sobre bloqueios atmosféricos, como monitorar e principalmente como mitigar seus impactos, especialmente no setor agropecuário! 

A seguir, apresentamos um exemplo de imagem do satélite meteorológico GOES-16, referente às 00h00min do dia 25/06/2024, disponível no módulo de “Tempo Agora” da plataforma sigmaABC, onde são destacadas através da paleta de cores, as nuvens com temperaturas de topo inferiores a -20°C. Esse tipo de nebulosidade pode acarretar numa condição de tempo severo, associado a tempestades e o seu monitoramento pode ser feito através desse tipo de produto meteorológico. Observa-se que praticamente não há áreas de instabilidade na maioria dos estados do Brasil (Figura 1), com exceção para a região Sul e em áreas do extremo norte do Brasil, muito em decorrência do estabelecimento do bloqueio atmosférico.

Processo de formação dos bloqueios atmosféricos

A circulação atmosférica nas latitudes médias (30°S a 60ºS) é marcada pela presença de fortes correntes de vento em altos níveis (2.500hPa ou 10.000m), conhecidas como jatos de altos níveis, que sopram de oeste para leste. Esses jatos são responsáveis pelo deslocamento dos sistemas meteorológicos, como frentes frias, ciclones e anticiclones, em direção ao leste. 

No entanto, essa circulação pode ser interrompida pela presença de um anticiclone (alta pressão atmosférica) quase estacionário em torno de 45°S (frequentemente), o que impede a progressão dos sistemas sinóticos para leste e consequentemente o avanço das chuvas para o restante do país, ficando restritas ao Sul do Brasil, causando precipitações fora do normal, além das altas temperaturas fora de época no Centro-Oeste e Sudeste. A seguir, temos uma ilustração elaborada pela Climatempo que explica, em termos gerais como os bloqueios atmosféricos impulsionaram as chuvas no RS e a onda de calor no restante do Brasil (Figura 2).

Com a atuação persistente desse sistema, os dias tendem a ficar mais secos e ensolarados, impulsionando naturalmente um cenário de forte calor. Por exemplo, a região do Grupo ABC em especial toda faixa mais ao norte, vem registrando temperaturas máximas do ar de até 5°C acima da média histórica para o mês de junho (Figura 3). Dentre as áreas monitoradas pela Fundação ABC, a região de Itaberá no estado de São Paulo, tem apresentado em 2024 valores de temperatura máxima mais quente nos últimos 17 anos, já na região fria do Grupo ABC, as médias estão variando entre 2 até 3°C acima do padrão normal e sem nenhum indicativo de geada, ou seja, algo pouco incomum para região do Grupo ABC nesta época do ano. 

 

 

 

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