Qual a altura de corte mais indicada para produção de azevém pré-secado?

13/08/2024 - Atualizado há 1 mês


Uma das formas de aumentar a eficiência da propriedade é utilizando melhor os recursos forrageiros, resultando em menores custos na produção de alimentos, obtendo-se assim maiores lucratividades na produção de leite.

O azevém é uma cultura de inverno bastante exigente em solos, adubação e umidade. Quando suas necessidades são atendidas, resulta em alta produção de massa e qualidade.

A região dos Campos Gerais do Paraná, onde está compreendida a maior parte da área destinada a produção de forrageiras de inverno do Grupo ABC, possui condições edafoclimáticas favoráveis para a produção de azevém.

No Inverno 2023, foram cultivados 32.500 ha de azevém. Diferentemente das demais bacias leiteiras da região Sul do Brasil (PR, SC, RS), os Campos Gerais utilizam o azevém para produção de pré-secado, e não pastejo ou corte verde. Importante salientar que o ponto de corte ou de entrada desses dois propósitos é tecnicamente diferente.

Para pastejo ou corte verde o ponto de entrada dos animais no pasto de azevém, ou de corte, é realizado quando o dossel está com uma altura média de 25 cm. Já o ponto de corte do pré-secado é posterior ao pastejo, ou seja, quando as plantas de azevém estão na fase de pré-emissão das inflorescências, ao final da elongação (GS37).

 

Bem, já falamos sobre o ponto de corte ou entrada nos dois propósitos, mas, qual a altura de corte mais indicada para produção de azevém pré-secado, objetivando um maior potencial produtivo com qualidade?

Para responder a essa questão, foi conduzido um trabalho na Safra de Inverno 2023. A altura da planta de azevém no momento dos 1º e 2º Cortes estão representadas na Figura 2. Com o objetivo de quantificar a altura de rebrote (Figura 4) para cada altura de corte, foram obtidas as medidas de altura de planta aos 2 e 10 dias após o 1º Corte (Figura 3).

Verificamos que, quando cortamos o azevém a 0 cm de altura (rente ao solo), a planta demora mais tempo para se recuperar, iniciando o rebrote de forma mais tardia, quando comparado aos valores dos demais tratamentos (5, 10 e 20 cm).

Foi realizada a análise bromatológica (qualitativa) de todos os tratamentos no Laboratório da Fundação ABC (abcLab) através da espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS), reconhecida como uma valiosa técnica analítica, rápida, precisa, não destrutiva, para determinar com acurácia a composição química de muitas gramíneas e leguminosas forrageiras. A proteína bruta (PB) média obtida no 1º Corte e 2º Corte foi, respectivamente, de 22,35% e 17,52%. A matéria seca (MS%) média foi de 13,83% (1º Corte) e 14,85% (2º Corte).

A fibra em detergente ácido (FDA) média foi de 30,55% (1º Corte) e 34,03% (2º Corte). A fibra em detergente neutro (FDN) média foi de 50,52% (1º Corte) e 50,77% (2º Corte). Esses dados comprovam o que, na maioria das vezes observamos em nossa rede de ensaios forrageiros de inverno, 1º Corte apresentando maior qualidade que o 2º Corte. Outro dado qualitativo obtido foi o Resíduo Mineral (RM) representado na Figura 5. Quando cortou o azevém rente ao solo (0 cm de altura), o valor do RM foi 42% maior quando comparado com a média dos outros tratamentos (5, 10 e 20 cm). Esse aumento do RM é um indicativo de que mais resíduo de solo foi adicionado no pré-secado, fato esse indesejado pelo produtor.

A análise quantitativa da produção de pré-secado de azevém foi feita através dos dados de Massa Verde (MV) (Figura 6) e Massa Seca (MS) (Figura 7); e a análise qualitativa foi realizada através dos dados da Estimativa de Produção de Leite por tonelada de pré-secado (Figura 8) e por hectare (Figura 9).

A produção de massa verde e massa seca por hectare é inversamente proporcional à altura de corte no 1º Corte e diretamente proporcional no 2º Corte. No 1º Corte, quanto menor foi a altura de corte, maior foi a produção de MV (0 cm = 53.407 kg.ha-1 vs. 20 cm = 19.485 kg.ha-1) e MS (0 cm = 9.040 kg.ha-1 vs. 20 cm = 2.734 kg.ha-1). Porém, no 2º Corte, quanto menor foi a altura de corte, menor foi a produção de MV (0 cm = 12.541 kg.ha-1 versus 20 cm = 47.369 kg.ha-1) e MS (0 cm = 1,615 kg.ha-1 versus 20 cm = 7.268 kg.ha-1).

Em relação a qualidade do pré-secado de azevém produzido, quando analisamos o valor médio dos dois cortes através dos dados de produção de leite estimado por tonelada de pré-secado (Figura 8), obtivemos maiores valores absolutos nas alturas de corte de 5 e 10 cm, quando comparado com as alturas de corte de 0 e 20 cm. Os valores são de 1.818 kg.T-1 MS (0 cm), 2.067 kg.T-1 MS (5 cm), 2.171 kg.T-1 MS (10 cm) e 1.945 kg.T-1 MS (20 cm).

A qualidade do pré-secado de azevém no 1º Corte com altura de 0 cm (1.689 kg.T-1 MS) foi inferior às demais alturas (5, 10 e 20 cm). Isso se deve pelo recolhimento do material vegetal de menor qualidade nutricional devido a maior participação de colmos na composição total do pré-secado obtido, ou seja, com uma relação folha/colmo menor.

Também podemos reforçar o que já foi dito anteriormente, 1º Corte apresentando maior qualidade que o 2º Corte, onde a média obtida da qualidade do pré-secado no 1º Corte foi de 2.328 kg.T-1 MS e a média do 2º Corte foi de 1.672 kg.T-1 MS.

Para finalizar a discussão dos resultados obtidos, analisaremos a soma do valor de leite estimado produzido por hectare, em cada altura de corte (Figura 9). Em ordem decrescente, os valores e suas respectivas alturas de corte foram: 9.811 kg.ha-1 (10 cm), 9.605 kg.ha-1 (5 cm), 9.204 kg.ha-1 (0 cm) e 8.528 kg.ha-1 (20 cm). Vale ressaltar que o 2º Corte foi realizado com altura fixa de 5 cm (resíduo) e foi observado acamamento das plantas de azevém na altura de corte de 20 cm no momento do 2º Corte.

Portanto, a sugestão de altura de corte para silagem pré-secada de azevém fica no intervalo de 5 a 10 cm (resíduo). Paralelamente a isso, é importante lembrar as principais questões operacionais envolvidas no processo, ou seja, além de acertar no ponto de corte e na altura de corte, é importante ter cuidado no momento do enleiramento do material para não recolher terra, evitando assim formação de poeira (resíduo mineral) e ocasionando a quebra frequente do equipamento utilizado nessa operação. É sugerido não espalhar o azevém na presença de orvalho (muito cedo), sendo sugerido no intervalo das 10h até as 15h.

 

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