Principais desafios no manejo de pragas na cultura do milho

04/09/2024 - Atualizado há 2 semanas


A área agrícola do grupo ABC já ultrapassou 600 mil hectares de área física. Entre os principais cultivos, o milho tem grande destaque com cerca de 200 mil hectares de área plantada, metade dessa área representada pelo milho safra e a outra pelo milho segunda safra.

Grande parte do milho safra é cultivado nos estados do Paraná e São Paulo, com a janela de semeadura entre o final do mês de agosto e o início do mês de outubro, tanto para produção de grãos como para produção de silagem. Para esse último propósito a área de cultivo tem aumentado devido à grande produção de leite na região.

Nesse contexto, o milho é uma cultura de alto investimento com elevado potencial produtivo na região, no entanto, alguns fatores podem limitar este potencial, sendo fundamental um bom planejamento desde a escolha do genótipo, época de semeadura, manejo nutricional e o acompanhamento da previsão climática, importante ferramenta para traçar essas estratégias de manejo e assim mitigar os fatores limitantes da produtividade como a ocorrência de pragas.

Na última previsão climática publicada em 21 de junho de 2024 pelo setor de Agrometeorologia da Fundação ABC (disponível no abc book), os modelos indicam que os meses de julho, agosto e setembro de 2024 terão o retorno da condição de neutralidade climática, com chuvas abaixo da média histórica e temperatura média do ar ligeiramente acima do padrão climatológico.

Esta condição pode favorecer a ocorrência de pragas com alto potencial de danos a cultura do milho como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), o percevejo barriga-verde (Diceraeus melacanthus) e a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis).

Para evitar os potenciais danos dessas pragas é importante adotar algumas estratégias de manejo:

Lagarta-do-cartucho: a lagarta pode ocasionar injúrias desde a emergência da cultura, cortando plântulas recém-emergidas e reduzindo a população de plantas, raspando folhas e danificando os cartuchos das plantas e tardiamente também podem atacar a espiga na sua inserção junto a planta ou diretamente no grão.

Para o manejo adequado da lagarta-do-cartucho em milho destacamos a necessidade da dessecação antecipada da cultura antecessora, o tratamento de sementes com inseticidas do grupo químico das diamidas e a pulverização foliar de inseticidas conforme os níveis de ação sugeridos para os diferentes eventos Bt.

Percevejo barriga-verde: Apesar de sua maior ocorrência no milho da segunda safra (após o cultivo de feijão ou soja), os plantios de milho na primavera quando seguidos de invernos amenos, tem apresentado populações que podem causar danos significativos na cultura, especialmente nos seus estádios iniciais de desenvolvimento. O percevejo é um inseto sugador que ocasiona distúrbios fisiológicos nas plantas de milho, suas injúrias podem acarretar perdas de produtividade superiores a 30%.

Importante considerar que o percevejo barriga-verde está presente no sistema de produção, ou seja, o seu controle não deve ser realizado apenas na cultura do milho, mas a partir do manejo outonal de plantas daninhas (potenciais hospedeiras do inseto) e na dessecação antecipada das culturas de cobertura no inverno.

Além dessas práticas, é imprescindível a utilização do tratamento de sementes com inseticidas do grupo químico dos neonicotinóides como clotianidina, imidacloprido ou tiametoxam, aliado às amostragens na pré-semeadura do milho para determinar a população da praga, e em condições de média e alta infestação (acima de 1 percevejo/m²) recomenda-se a pulverização foliar de inseticidas logo após a emergência. Lembrando que o controle desse inseto, através da pulverização foliar de inseticidas, deve ser realizado entre os estádios VE a V3, período de maior suscetibilidade das plantas ao ataque do percevejo barriga-verde.

Cigarrinha-do-milho: Nos últimos anos a cigarrinha, Dalbulus maidis, se tornou uma das principais preocupações dos agricultores e pecuaristas que cultivam milho. Por se tratar de um inseto-vetor de patógenos como o enfezamento pálido (espiroplasma), enfezamento vermelho (fitoplasma) e o vírus da risca, dependendo da época de infecção e suscetibilidade do genótipo podem ocasionar perdas de até 100%, além dos danos diretos pela sucção da seiva.

O sistema atual de cultivo do milho em duas safras (safra e 2ª safra) permite que haja uma ponte verde da cultura, além disso, a presença de plantas voluntárias (milho tiguera) é fator determinante para a permanência dos patógenos e do vetor durante todo o ano. No Brasil, o milho é o único hospedeiro conhecido da cigarrinha D. maidis, permitindo que o inseto se abrigue, alimente e reproduza, completando assim seu ciclo biológico.

O manejo do complexo de molicutes e vírus requer ações preventivas para redução das fontes de inóculo e para redução dos níveis populacionais da cigarrinha, ações estas que devem ser adotadas por todos os produtores de milho na região:

A utilização de inseticidas, quando realizada de forma adequada, levando em consideração a presença da praga e a reação dos genótipos de milho aos enfezamentos, é opção imprescindível no manejo da cigarrinha-do-milho. Vale ressaltar que as pulverizações devem ser realizadas desde o início do desenvolvimento da cultura até o estádio de 8 folhas (V8), período de maior suscetibilidade da cultura aos patógenos transmitidos pela cigarrinha, o número de pulverizações e o intervalo entre elas vai depender da tolerância dos genótipos de milho aos enfezamentos.

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