30/11/2023 - Atualizado há 1 ano
Recentemente tivemos a confirmação de mais uma espécie de planta daninha resistente ao herbicida glyphosate no Brasil, o picão-preto. Na região de atuação do grupo ABC os primeiros relatos de dificuldade de controle com esse herbicida, nas culturas da soja e do milho, foram registrados em 2012 e na época foram identificadas duas espécies de picão-preto Bidens pilosa e Bidens subsalternans, sendo uma delas mais tolerante ao glyphosate. No Brasil ocorrem 19 espécies de Bidens, porém as duas espécies acima acabam predominando nas lavouras e pela dificuldade na identificação ambas são chamadas genericamente de picão-preto.
Bidens pilosa e Bidens subalternans são espécies da família Asteraceae, predominam no verão, cada planta produz em média 3.000 aquênios, a germinação é do tipo epígea e as sementes são fotoblásticas positivas, ou seja, precisam de luz para germinar (Kissmann, 1999). Essas espécies são facilmente confundidas no campo, na fase inicial de desenvolvimento B. pilosa e B. subalternans são muito similares e somente após a floração a separação das espécies ficam mais nítida. O aquênio (de forma simples, o fruto com uma única semente) apresenta 2 a 3 aristas para Bidens pilosa e possui 4 aristas para Bidens subalternans (Figura 1). Outras características também ajudam na diferenciação das espécies, para B. pilosa o segundo par de folhas é diferente do primeiro par de folhas, enquanto para B. subalternans o segundo par é igual ao primeiro par de folhas. A estrutura de B. pilosa possui ramificação dicotômica em toda a extensão do caule e para B. subalternans a dicotomia ocorre na parte inferior, passando a alternada na parte superior. Nas flores de B. pilosa, ocorrem botões de flor amarela, com lígulas brancas bem desenvolvidas, enquanto em B. subalternans as lígulas são pequenas de cor amarela (Adegas et al., 2023). A coloração nas folhas de B. subalternans é verde mais escura do que nas folhas de B. pilosa, porém esse detalhe só pode ser observado em plantas que se desenvolvem em mesmas condições, estando lado a lado.
Com relação ao controle, o primeiro caso de resistência a herbicidas inibidores da ALS (imazethapyr, imazaquin, chlorimuron-ethyl e nicosulfuron) no Brasil foi registrado em 1993 para Bidens pilosa e em 1996 para Bidens subalternans (chlorimuron-ethyl e nicosulfuron). Em 2006 foi confirmada resistência para atrazina em B. subalternans e em 2016 para B. pilosa. O caso mais recente, 2023, foi a confirmação de resistência ao glyphosate para B. subalternans (Heap, 2023). Dessa forma, indiferente da espécie de picão-preto é possível encontrar à campo falhas de controle com herbicidas inibidores da ALS, FS II e EPSPs e com isso, surge a necessidade de buscar estratégias de manejo visando maior controle.
Para controle da sementeira de picão-preto, o herbicida clomazone em pré-emergência da soja pode ser uma alternativa em áreas onde herbicidas inibidores da ALS, como imazethapyr, não tem eficácia. Na pós-emergência da soja, uma alternativa ao glyphosate é utilizar herbicidas inibidores da PROTOX como fomesafen porém o tamanho da planta daninha (2 a 4 folhas) é fundamental. No grupo ABC ainda não foram identificadas áreas de picão-preto com resistência ao herbicida glyphosate e o uso de herbicidas na pré-emergência pode reduzir a pressão de seleção dentro da culturas. Mais informações sobre o controle de picão-preto em soja, milho e feijão estão disponíveis para a assistência da Fundação ABC, garantindo um controle seletivo e eficaz.