Fundação ABC realiza treinamento de identificação e monitoramento de insetos-praga nas culturas de milho e feijão

O setor de Entomologia promoveu mais uma edição do treinamento de identificação e monitoramento de insetos-praga nas culturas de milho e feijão. Desta vez, em Formosa(GO), para produtores e seus funcionários, ligados ao Grupo KGL.  O encontro também contou com a participação da equipe do sigmaABC. Foram duas: Uma parte teórica e outra, no campo. Confira imagens do evento:

Show Tecnológico Inverno foi um sucesso de público e conteúdo!

Com o apoio de São Pedro, que deu uma trégua na chuva na data do evento, e com o engajamento das empresas apoiadoras e patrocinadoras, a sexta edição do Show Tecnológico Inverno superou as expectativas, tanto por parte da organização como também dos visitantes.

Em avaliação feita junto ao público, as apresentações realizadas pelos setores de pesquisa da Fundação ABC e pelas empresas patrocinadoras receberam notas-média acima de 9, numa escala de zero a dez. A organização do evento também, 9,48. E na metodologia que avalia a qualidade do evento, a edição ficou na zona de excelência.

“Estamos construindo a edição inverno aos poucos, com os pés no chão. E ficamos felizes em ver que o evento vem mantendo um crescimento sólido ao longo destes anos. E isto é um trabalho feito em conjunto com as nossas cooperativas mantenedoras e com as empresas parceiras. Nosso muito obrigado ao público presente e aos parceiros que acreditam em nosso evento”, agradeceu Luís Henrique Penckowski, gerente Técnico de Pesquisa na fundação.

A dinâmica do campo foi realizada através de giro de campo, no qual 10 grupos foram conduzidos por guias, passando pelas oito tendas das empresas patrocinadoras e pelas seis estações da fundação. Teve início às nove horas e seguiu até às quatro da tarde, com pausa para o almoço.

Na estação da Fitopatologia, o time de pesquisa falou sobre manchas foliares na cultura da cevada, apresentando as melhores ferramentas de controle, com uso de fungicidas. Já a equipe de Fitotecnia destacou a cultura de trigo, apresentando ao público o desempenho de genótipos da cultura para a região. Com o pessoal da Entomologia, o bate-papo foi sobre a importância de realizar o tratamento de sementes para bons resultados de produtividade na cevada. A redução de adubação em cereais de inverno foi o questionamento abordado pelo setor de Solos e Nutrição de Plantas. A equipe de Forragens & Grãos apresentou a oportunidade de silagens em cereais de inverno. E teve também a demonstração da plataforma sigmaABC.

Para Willem Bouwman, diretor Presidente da Castrolanda, que estava presente, o Show Tecnológico, tanto Inverno como a edição Verão, é um grande encontro técnico. “O produtor vem aqui sabendo que vai encontrar informações e inovações do seu interesse. É um ambiente muito bom e muito propício, que promove a integração entre pesquisadores e agricultores. Há muita troca de informação, o que é bom para os dois lados”, comentou.

A sexta edição contou mais uma vez com o apoio das cooperativas Frísia, Castrolanda, Capal e Coopagrícola, que além de estarem presentes com as suas marcas de sementes, também trouxeram ao evento a Maltaria Campos Gerais, que em conjunto com mais duas cooperativas, está se tornando realidade ao lado do CDE Ponta Grossa.

“Eventos como este, da Fundação ABC, são importantes porque a tecnologia gerada pelos pesquisadores assim chega aos produtores. E isso é muito importante para a nossa maltaria, pois o sucesso dela também depende dos resultados de pesquisa no campo”, comentou Jorge Karl, diretor Presidente da Agrária.

Edição Verão já tem 60 empresas confirmadas!

E por falar em Show Tecnológico, a edição Verão já começa a ser preparada. Algumas empresas realizaram o plantio para o evento, que ocorre nos dias 1 e 2 de março de 2023, no CDE Ponta Grossa-PR e que já tem confirmada a participação de 60 marcas. Os interessados podem acompanhar as informações sobre a edição em www.showtecnologicoabc.org

Edição Verão já tem 60 empresas confirmadas!

E por falar em Show Tecnológico, a edição Verão já começa a ser preparada. Algumas empresas realizaram o plantio para o evento, que ocorre nos dias 1 e 2 de março de 2023, no CDE Ponta Grossa-PR e que já tem confirmada a participação de 60 marcas. Os interessados podem acompanhar as informações sobre a edição em www.showtecnologicoabc.org

COMO O LA NIÑA VEM REGULANDO O CLIMA NO GRUPO ABC?

O fenômeno climático La Niña teve seu início confirmado pelo Centro de Previsão Climática (CPC) dos Estados Unidos durante o segundo semestre de 2020 e desde então vêm influenciando as condições climáticas em todo o mundo. Na região de atuação das Cooperativas ABC nos últimos dois anos (2020 e 2021), ficou evidente a ocorrência de estiagens regionalizadas, sobretudo entre o outono e o inverno, além do atraso do início e irregularidade do período chuvoso (primavera). Em relação as temperaturas, observou-se a antecipação das ondas de frio no outono, com formação de geada a partir do terceiro decêndio de abril, registro de temperaturas negativas no 2° e 3° decêndio de julho, bem como alguns eventos de friagem entre agosto e setembro.

Contudo, se fizermos um recorte para 2022, ficam evidentes os maiores volume e frequência das chuvas desde as primeiras semanas de setembro de 2022 sobre a região do Grupo ABC, excedendo inclusive a média histórica (Figura 1). As cores avermelhadas predominantes nos mapas evidenciam o atraso do início do período chuvoso em 2020 e 2021, por influência do La Niña, que acarretou volumes de chuva abaixo do padrão climatológico (anomalia negativa). Por outro lado, em 2022 o cenário foi bem divergente e com predomínio de anomalias positivas (tons em azul), com chuvas acima do padrão normal em decorrência da melhor distribuição e regularidade pluviométrica sobre o Grupo ABC.

Figura 1- Mapas de anomalia mensal de precipitação acumulada para o mês de setembro de 2020, 2021 e 2022 em relação a média histórica (desde 1988). Fonte: smaABC / Fundação ABC.

Essa situação de muita chuva vem desfavorecendo o desenvolvimento final dos cereais e forragens de inverno, impactando principalmente nas características de qualidade dos grãos. No caso das áreas semeadas em agosto e setembro com feijão e milho, o sinal de atenção está relacionado ao encharcamento do solo, menor qualidade da radiação solar e temperaturas mais baixas para essa época do ano, fatores que resultam no favorecimento de algumas doenças radiculares, irregularidade no estabelecimento inicial das lavouras e possível aumento do ciclo dos cultivos de verão. Diante do cenário atual de vários dias consecutivos de chuva volumosa, muita gente vem se perguntando se realmente o La Niña está presente?

 

SIM, O LA NIña ESTÁ PRESENTE E CONTINUARÁ ATIVO ATÉ O INÍCIO DE 2023!

Para o leitor que acompanha a coluna do smaABC, está claro que os fenômenos oceânico-atmosféricos influenciam as condições climáticas em todo o mundo, e que neste episódio de La Niña, seus impactos podem ser monitorados e previstos há pelo menos 3 anos consecutivos.

Porém, os impactos do La Niña esperados sobre o regime de chuva e temperatura do ar podem ser modificados por fatores meteorológicos de escala regional, ligados por exemplo a frequência de passagem de frentes frias, formação de ciclones, presença de regiões de crista ou cavados e atuação de áreas de alta pressão atmosférico. Todos esses sistemas possuem escala temporal de alguns dias, mas que dependendo da sua periodicidade e magnitude, podem exercer um papel primordial na variabilidade climática local. Além disso, quando tratamos de Brasil e em particular a região do Grupo ABC, não podemos deixar de lado a forte influência que o Oceano Atlântico desempenha nos processos de transferência de calor e umidade para atmosfera, modelando o posicionamento desses sistemas transientes e consequentemente afetando a distribuição, frequência e intensidade das chuvas, além do comportamento das temperaturas ao longo das semanas.

Nos últimos dois meses de 2022 (setembro e outubro) as condições atmosféricas observadas na região do Grupo ABC (chuvas acima da média) foram amplamente influenciadas pela passagem de um total de 11 sistemas frontais, sendo a sua grande maioria com posicionamento mais oceânico. Esta maior quantidade de sistemas frontais (em relação a climatologia) associada ao acoplamento da instabilidade presente no oceano favoreceram o cenário de chuvas intensas. Por fim, soma-se ainda a alteração do padrão de circulação dos ventos em diferentes níveis da atmosfera, que permitiu o maior transporte de umidade e calor, vindo da bacia hidrográfica Amazônica para áreas do centro-sul do Brasil.

As Figuras 2a e 2b mostram o posicionamento médio da corrente de jato sobre o território brasileiro e a faixa de nebulosidade formada, respectivamente. Essa condição favoreceu a configuração de um canal de umidade que por várias semanas manteve a atmosfera bem instável, com predomínio de dias com céu encoberto e espalhando várias áreas de chuva de moderada a forte intensidade sobre o Paraná e região do Grupo ABC. Esse intenso e amplo fluxo de umidade vindo da região Amazônica também foi responsável por reforçar as áreas de instabilidade das frentes frias que avançaram próximo ao litoral Sul do Brasil, criando uma situação bem favorável para aumento na frequência de tempestades com muitos raios e acompanhados de algumas rajadas de vento.

Por fim, ressaltamos aqui alguns registros meteorológicos observados em nossa rede de estações automáticas durante o mês de setembro e os primeiros 20 dias de outubro de 2022 (Tabela 1). Num período de 50 dias (01/09 a 20/10) foram registrados acumulados de precipitação acima dos 350mm com máximo de até 434mm. Em alguns locais, a instabilidade provocou acumulado diário de chuva em torno de 58,6mm no dia 20/10 na estação de Ortigueira, Caraguatá e 53,2mm no dia 26/09 em Tibagi, Hirooka ambas no estado do Paraná. Com relação a frequência de dias com chuva, os dados mostraram que dos 50 dias observados tivemos mais de 30 dias de chuva, que corresponde mais de 60% do período e isso acabou refletindo em um aumento da quantidade de dias com céu encoberto e maior número de horas com umidade relativa do ar acima dos 90%.

Oídio e Mofo-branco em Soja: La Niña favorece o desenvolvimento dessas doenças

Para ocorrer o desenvolvimento de determinada doença em uma cultura é necessário que ocorra a interação entre três fatores: patógeno, hospedeiro e ambiente. A ocorrência do fenômeno atmosférico oceânico conhecido como La Niña, caracterizado por um resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico, vem a contribuir para o desenvolvimento de doenças como Oídio e Mofo Branco em soja, satisfazendo as exigências desses patógenos, os quais necessitam de temperatura do ar mais amena.

Oídio (Microsphaera diffusa) é favorecido por condições de baixa umidade relativa do ar e dias consecutivos sem precipitação. Enquanto o Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum) tem seu desenvolvimento favorecido por alta umidade relativa do ar e dias nublados com garoa, condições de tempo frequentemente observada na região de altitude elevada do grupo ABC, nos anos de La Niña (Figura 1).

O fungo biotrófico Microsphaera diffusa, patógeno causador do Oídio, depende de hospedeiros vivos para sua sobrevivência, crescimento e reprodução (Figura 2). Os sintomas típicos da doença são uma fina cobertura esbranquiçada pulverulenta (Figura 3), constituída de micélio e esporos do fungo, que podem aparecer em pequenos pontos ou cobrir toda a parte aérea da planta, principalmente as folhas, em ambas as faces, ocorrendo em pecíolos, hastes e vagens.

Sob condição de infecção moderada à severa, a cobertura de micélio e a frutificação do fungo reduz a área fotossinteticamente ativa da planta, dificultando a utilização da radiação solar para a fotossíntese e com isso reduzindo a produção de fotoassimilados e energia para a planta. Com isso as folhas secam e caem prematuramente, reduzindo o potencial produtivo da cultura.

A curva de progresso de Oídio da soja para as safras 2019/2020 e 2021/2022 é apresentada na Figura 4. A diferença entre a severidade nas duas safras deve-se a favorabilidade ao desenvolvimento da doença. A Figura 5 corrobora com a taxa de progresso nas diferentes safras, evidenciando o ambiente favorável ao desenvolvimento do Oídio na safra de 2019/2020.

A indicação para iniciar o controle do Oídio em soja, consiste no aparecimento dos primeiros sintomas da doença na lavoura, de modo geral, com sintomas iniciais no estádio fenológico de V5/V6 (Figura 6). A doença possui uma taxa de evolução bastante rápida em condições favoráveis, dificultando o controle do Oídio, principalmente após o fechamento das entre linhas. Motivo pelo qual, nossos ensaios são realizados com aplicações no estádio vegetativo (V5), o que na prática coincide com a aplicação de herbicida.

Os experimentos conduzidos pela Fundação ABC demostram importância significativa no controle do Oídio no programa de manejo, com aplicações realizadas no estádio vegetativo (V5). Nos tratamentos que não recebem a aplicação em V5, Oídio persiste até o final do ciclo da cultura, provocando queda prematura das folhas e redução de produtividade (Figura 6). A aplicação do fungicida na fase vegetativa da soja vem a contribuir de forma significativa no controle de Oídio, DFC de forma preventiva na Ferrugem Asiática da Soja (Phakopsora pachyrhizi).

Na Figura 7 é apresentado os dados obtidos nas safras de verão 2018/2019 a 2021/2022 nos campos experimentais de Itaberá -SP, Arapoti, Tibagi, Ponta Grossa e Castro – PR, perfazendo um total de 516 tratamentos estudados, em que observamos 84% destes dados com resposta positiva em produtividade, corroborando com os dados apresentados na Figura 6. Diante disso, conclui-se que o controle de Oídio contribui de forma significativa na manutenção do teto produtivo da soja.

O controle químico do Oídio com triazóis, carboxamidas e morfolinas apresentam maior eficiência no controle da doença, conforme resultados dos experimentos conduzidos na safra 2021/2022 no campo experimental de Arapoti – PR. Dentro desses grupos químicos, destaca-se os princípios ativos isolado e em misturas como: misturas com Carboxamidas, Fenpropimorfe, Difenoconazol, Ciproconazol, Propiconazol, Ciproconazol + Trifloxistrobina, Tebuconazol, Ciproconazol + Picoxistrobina,  Tetraconazol, Fluazinam e Tiofanato-metílico (Figura 8).

Os ingredientes ativos Fluazinam, Tiofanato-metílico e Boscalida, indicados para o controle do Mofo Branco no início da fase reprodutiva, apresentam efetividade no controle de Oídio, conforme destacado na Figura 8.  O amplo espectro de ação destes fungicidas, é extremamente vantajoso na estratégia de manejo destas doenças.

Figura 8 – Controle de Oidio (Microsphaera diffusa), obtido no experimento de eficácia de fungicidas: CBX = Misturas com Carboxamidas; FPM = Fenpropimorfe; DFZ + PPZ = Difenoconazol + Propiconazol; DFZ = Difenoconazol; CPZ + TFS = Ciproconazol + Trifloxistrobina; TCZ = Tebuconazol; TTCZ = Tetraconazol; FZN + THIM = Fluazinam + Tiofanato-metílico; FZN = Fluazinam; THIM = Tiofanato-metílico; BOSC + DMXS = Boscalida + Dimoxistrobina, para o controle de doenças em soja, safras de verão 2021/2022 em Arapoti – PR, cultivar BMX Zeus IPRO.

 

Na edição 42, publicada em novembro de 2020, foi detalhado as estratégias no manejo de Mofo Branco. Na publicação foi mencionado o grande desafio do Mofo Branco nas culturas do feijão e soja no Brasil, com destaque na dificuldade de se obter bons controles. Estudos demonstram que não existe controle total da doença, apenas redução da incidência nas plantas.

Por meio da Figura 9 são apresentados os resultados em relação ao controle químico de Mofo Branco com a utilização de diferentes fungicidas foliares específicos, considerada a principal medida de controle da doença. Essa prática deve ser adotada para proteger as plantas da infecção pelo patógeno, no período de maior vulnerabilidade da cultura, que compreende o início da floração ou fechamento das entrelinhas até o início de formação de vagens concomitante à presença de apotécios no solo. A primeira pulverização deverá ser feita nas primeiras aberturas das flores (R1), em condições favoráveis ao Mofo Branco, uma segunda aplicação se faz necessário com intervalo de 7 a 10 dias em relação a primeira, protegendo as plantas na fase mais vulnerável ao ataque da doença, isto é, até final de florescimento.

Figura 9 – Controle de Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum), obtido no experimento de eficácia de fungicidas: BOSC + DMXS = Boscalida + Dimoxistrobina; FZN = Fluazinam; FZN + THIM = Fluazinam + Tiofanato-metílico; PYDN = Procimidona; THIM = Tiofanato-metílico, para o controle de doenças em soja, safra de verão 2021/2022 em Ponta Grossa – PR, cultivar Brasmax Lança IPRO.

 

Na Figura 10 é apresentado o desenho esquemático para o controle de Oídio e Mofo branco em soja, importante ressaltar a importância dos momentos de aplicação para obter efetividade em controle destas doenças.

CONSIDERAÇÕES

  • Atentar aos primeiros sintomas de Oídio ou estádio fenológico de V5/V6 para iniciar o manejo com aplicação de fungicida.
  • Na escolha do fungicida para o controle Oídio é importante consultar os resultados da última safra para atualizar quanto a sua eficácia. Consulte o ABCBook, Fitopatologia Apresentação de Resultados safra verão 2022.
  • A atualização da previsão climática divulgada em novembro de 2022, mantém a condição de La Niña para o trimestre de NOVEMBRO-DEZEMBRO/2022-JANEIRO/2023, com fenômeno de moderada intensidade (http://sma.fundacaoabc.org/previsao_climatica). Diante deste cenário, em áreas com histórico de Mofo Branco a atenção deve ser redobrada.
  • Fase crítica para o desenvolvimento do Mofo Branco se dá entre o início de floração até início de formação de vagens, pode ser necessário entre uma e duas aplicações de fungicida específico para o controle de Mofo Branco, dependendo das condições meteorológicas nesta fase, concomitante à presença de apotécios no solo.