Influência de aspectos fitotécnicos, uso de inseticidas e tecnologia de aplicação no manejo da cigarrinha-do-milho

Este texto representa um resumo do trabalho técnico de pesquisa dos setores de Entomologia, Forragens & Grãos e MAAP (Mecanização Agrícola e Tecnologia de Aplicação), qual foi apresentado no 27º Show Tecnológico de Verão da Fundação ABC em Ponta Grossa (PR), 2024.

Atualmente a área agrícola do grupo ABC ultrapassou a barreira de 600 mil hectares de área física. Dentre as principais culturas, o milho tem grande destaque na Fundação ABC, atuando com cerca de 200 mil hectares, representado por próximo de 100 mil ha na safra de verão e 100 mil ha na segunda safra (safrinha) que neste caso, atendem os estados de PR, SP, MG, DF, GO e TO, quais estão presentes no grupo.

Nos últimos anos a cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis, se tornou uma das principais preocupações dos agricultores e pecuaristas que cultivam milho. Por se tratar de um inseto-vetor de patógenos, dependendo da época de infecção e suscetibilidade do genótipo podem ocasionar perdas de até 100%.

A cigarrinha é um inseto sugador, ocasionando danos diretos em milho, porém, seu potencial de dano é elevado por se tratar de um inseto-vetor dos patógenos espiroplasma (Spiroplasma kunkelii), fitoplasma (Maize bushy stunt; MBS-fitoplasma) e do Maize rayado fino virus (MRFV), agentes causais das doenças sistêmicas do milho denominadas enfezamentos e vírus da risca, respectivamente. O espiroplasma e o fitoplasma são microrganismos procariontes, sem parede celular, e pertencem à classe Mollicutes, sendo denominados comumente como molicutes. 

Uma mesma planta de milho pode ser infectada por apenas um ou, simultaneamente, por ambos os molicutes, por esse motivo, a dificuldade em diferenciar os enfezamentos com base apenas no diagnóstico visual da planta. Os sintomas são similares e podem ser influenciados pelo genótipo de milho, condições climáticas e o momento em que plântula foi infectada, podendo ocorrer infecção simultânea dos molicutes com o vírus da risca e com o vírus do mosaico comum do milho, este último transmitido por pulgões, por este motivo se tem utilizado o termo “Complexo de Molicutes e Vírus” ao se referir a esses patógenos. Geralmente, a infecção com os molicutes ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho, porém os sintomas e os danos causados por esses patógenos aparecem na fase reprodutiva das plantas. 

Plantas com enfezamento formam menos raízes que as plantas sadias, apresentam internódios mais curtos, podem se tornar pequenas e improdutivas.

Sintomas foliares dos enfezamentos caracterizam-se pela descoloração nas margens e na parte apical das folhas e, em seguida, secamento ou avermelhamento nas folhas superiores da planta, a intensidade do avermelhamento é variável conforme o genótipo de milho.

As espigas têm tamanho reduzido, falhas no enchimento de grãos e grãos “chochos”. Podem ocorrer outros sintomas como proliferação de espigas, brotamento nas axilas das folhas, má formação das palhas das espigas.

Dependendo da região de plantio e do nível de resistência do genótipo de milho, as plantas com enfezamento podem ser colonizadas por outros patógenos como Phytium spp., Diplodia spp. e Fusarium spp., provocando a quebra e acamamento de plantas.

O Maize rayado fino virus (MRFV) caracteriza-se pelos pontos cloróticos paralelos às nervuras secundárias das folhas, que coalescem e apresentam aspecto de riscas, claramente visíveis quando observados contra a luz do sul. Esses sintomas manifestam-se nas folhas em curto período após a infecção, independente do estádio da cultura do milho.

O Maize rayado fino virus (MRFV) caracteriza-se pelos pontos cloróticos paralelos às nervuras secundárias das folhas, que coalescem e apresentam aspecto de riscas, claramente visíveis quando observados contra a luz do sul. Esses sintomas manifestam-se nas folhas em curto período após a infecção, independente do estádio da cultura do milho.

A cigarrinha do milho tem preferência por colonizar plantas de milho na fase inicial do estabelecimento da cultura, principalmente de VE (emergência) a V8 (8 folhas expandidas). Esse inseto-vetor tem a cultura do milho como hospedeiro obrigatório para a sua multiplicação, porém pode utilizar outras gramíneas como “plantas abrigo”, cultivadas ou plantas daninhas.  

É importante ressaltar que a evolução da ocorrência do complexo de molicutes e vírus na região sudeste e sul do país está diretamente relacionada à intensificação do sistema de produção, a ampliação das épocas de semeadura (safra e segunda safra) e a grande quantidade de milho voluntário (tiguera) na entressafra, possibilitando a manutenção de plantas de milho disponíveis por um maior período para a alimentação da cigarrinha contaminada, promovendo modificações importantes na dinâmica populacional dessa praga,  com populações elevadas do inseto não apenas no milho segunda safra mas também nas áreas semeadas no final do mês de agosto e início de setembro.

O manejo do complexo de enfezamentos requer ações preventivas para redução das fontes de inóculo e para redução dos níveis populacionais da cigarrinha, ações estas que devem ser adotadas por todos os produtores de milho na região, ressaltando que não há uma única medida altamente efetiva que aplicada isoladamente possa controlar o complexo de enfezamentos.

temos que lembrar de alguns conceitos como a taxa de aplicação (L/ha) e o tamanho de gotas. É conhecido que esses dois fatores impactam diretamente na cobertura do alvo, portanto dependendo da aplicação a ser realizada e o alvo, é possível adequar esses fatores para se obter o mínimo de cobertura necessária para ter um bom controle. Geralmente, quanto menor a gota e maior a taxa de aplicação, maior será a cobertura do alvo.

Sendo assim, os produtores que trabalham com taxas menores como 40 a 60 L/ha precisam trabalhar com gotas mais finas para conseguir manter um mínimo de cobertura, enquanto produtores que trabalham com taxas acima de 100 L/ha têm mais flexibilidade para utilizar tamanhos de gotas maiores em caso de condições ambientais adversas, com temperaturas acima de 30ºC, umidade abaixo de 50% e velocidade do vento acima de 10 km/h, e com isso conseguem reduzir a perda por deriva. Com exceção às aplicações de herbicidas sistêmicos, que permitem trabalhar com taxas menores e gotas mais grossas.

Levando em conta um compilado de 10 anos de pesquisas realizadas na Fundação ABC, do ponto de vista da eficácia de controle de pragas e doenças, a taxa de aplicação historicamente tem um impacto maior sobre o sucesso da aplicação quando comparado ao tamanho de gotas, ou seja, em anos de alta pressão de pragas ou doenças foram observadas uma redução no controle quando utilizando taxas menores, mesmo trabalhando com gotas mais finas. Os resultados preliminares dos ensaios para controle da cigarrinha no milho apontam no mesmo sentido, os tratamentos com taxas menores (50 L/ha), mesmo com gotas mais finas estão entregando um controle menor do que as taxas de 100 L/ha com gotas médias.

Uma tecnologia que vem crescendo a adoção é o monitoramento em tempo real das condições ambientais no momento da aplicação com uso de pequenas estações meteorológicas instaladas no próprio pulverizador, permitindo que o operador possa tomar a decisão de parar uma aplicação ou adequar a ponta de pulverização para a situação atual. E outra ferramenta que pode auxiliar e trabalhar em conjunto com os dados ambientais é o uso de discos rotativos no lugar das pontas de pulverização, como os utilizados nos drones, pois permitem a alteração do tamanho de gota sem precisar parar a operação. Sistemas como esse para instalação na barra do pulverizador já está sendo oferecido na Argentina.

E uma outra ferramenta que também está sendo testada na Fundação ABC são os sensores ópticos instalados na barra do pulverizador que conseguem identificar quando tem uma planta viva e acionar uma válvula PWM que abre a ponta de pulverização a tempo de aplicar o defensivo sobre ela. O conceito original foi desenvolvido para aplicação de herbicidas somente sobre as plantas daninhas, porém as aplicações de inseticidas somente sobre as plantas de milho visando controle de cigarrinha apresentou economias acima de 80% na primeira aplicação quando o milho está no estádio VE. E nas aplicações seguintes essa economia vai reduzindo conforme as plantas vão se desenvolvendo e diminui a área de solo exposto.

Vale destacar que a eficiência no manejo da praga está atrelada ao conjunto de fatores e neste quesito, a genética representa enorme importância. A escolha do híbrido tolerante traz um benefício imediato ao produtor por reduzir o potencial de inóculo dos patógenos presentes na lavoura. É consenso entre pesquisadores e técnicos que o uso de híbridos tolerantes é a medida mais efetiva para o manejo dos enfezamentos do milho.

Mais de 120 genótipos de milho foram pesquisados na safra de verão 2022/2023 e safrinha 2023, o ponto preocupante é que atualmente nos ensaios, apenas 40% dos híbridos estudados se classificam em tolerantes e quando partimos para a safrinha de milho os dados são mais agravantes, pois os números de híbridos tolerantes estão próximo de 10%.

A perda de produtividade dos híbridos na presença da cigarrinha infectada é visível nos ensaios com alta infestação da praga. No ensaio de milho verão, realizado em Arapoti (PR), safra 2022-2023, com alta infestação de Dalbulus maidis desde o início de desenvolvimento da cultura, os dados analisados apresentaram correlação de 80% entre aumento do índice de enfezamento x redução de produtividade (Figura 10). A maior produtividade foi de 15.840 kg.ha-1 com índice de enfezamento de 9%, já o híbrido com menor produtividade apresentou 8.854 kg.ha-1 e índice de enfezamento de 45%.

Outro ponto relevante, é que o grupo ABC está em uma das maiores bacias leiteiras do Brasil, no ano de 2023, no período de julho a produção diária de leite nas cooperativas da região ultrapassou os 2,5 milhões de litros de leite e a silagem de planta inteira de milho é a principal fonte de alimento do bovino leiteiro.

No trabalho realizado pelo setor de Forragens & Grãos, avaliando o impacto de produtividade de massa seca das plantas de milho com sintomas de enfezamento x sem sintomas de enfezamento em 10 híbridos, a perda média de produtividade foi de 51,6%, ou seja, reduziu a produção de alimentos em mais de 50% (Figura 11). É importante salientar que neste trabalho, outro fator impactante causado pelo enfezamento foi a perda do valor nutricional da silagem associado a maiores índices de micotoxina no alimento. 

Ainda assim, a resistência genética deve ser entendida como mais uma opção no conjunto de medidas para o manejo do complexo cigarrinha-enfezamento e não como prática isolada. Assim, é importante entender o sistema de produção e o conhecimento das interações entre o inseto-vetor e o ambiente onde a cultura está inserida. 

A utilização de inseticidas, quando realizada de forma adequada, levando em consideração a presença da praga e a reação dos genótipos de milho aos enfezamentos, é opção imprescindível no manejo da cigarrinha-do-milho. Vale ressaltar que as pulverizações devem ser realizadas desde o início do desenvolvimento da cultura até o estádio de 8 folhas (V8), período de maior suscetibilidade da cultura aos patógenos transmitidos pela cigarrinha, o número de pulverizações e o intervalo entre elas vai depender da tolerância dos genótipos de milho aos enfezamentos.

 

 

 

Impacto dos sistemas de produção na rentabilidade e saúde do solo: aprendizados de um experimento de 35 anos

Em 1989, os produtores da região dos Campos Gerais tinham muitos desafios, no início do SPD. Um deles era ter um sistema rentável e ao mesmo tempo favorável para a qualidade do solo. Um ensaio com diferentes ideias de sequências de culturas foi instalado para tentar responder essas dúvidas. Ao longo dos últimos 35 anos, esse ensaio gerou dados muito importantes para entender os caminhos de uma agricultura rentável e sustentável. Aqui, compartilhamos alguns aprendizados.

 

Na última edição do Show Tecnológico de Verão, foram apresentados os resultados e os principais aprendizados de um dos ensaios mais antigos de plantio direto do país. Desde 1989, a Fundação ABC conduz esse ensaio com o objetivo de avaliar os impactos no solo, na produtividade e na rentabilidade em sistema plantio direto em um ensaio instalado em Ponta Grossa-PR.

Na ocasião do evento, foi aberta uma trincheira com mais de 1,5 m de altura, com o objetivo de observar melhor o solo e, principalmente, os sistemas radiculares das culturas instaladas (Figura 1).

Mas, afinal, por que conduzir ensaios durante tanto tempo? Qual a importância disso?

Ao observar resultados por longo período no mesmo ensaio, é possível identificar tendências, padrões e potenciais desafios que podem não ser tão aparentes em estudos de curto prazo. Portanto, os ensaios de longo prazo desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de práticas agrícolas mais rentáveis e sustentáveis, auxiliando o produtor a ter rentabilidade e qualidade do solo para as próximas gerações sob diferentes cenários e desafios no presente e no futuro. 

Conhecendo o experimento

O principal foco desse estudo, desde o início, é a sustentabilidade do negócio dos produtores. Como garantir rentabilidade constante a médio e longo prazo, sem comprometer a qualidade do solo? Aqui, é importante relembrar o cenário de 1989. O sistema plantio direto estava ainda com muitos desafios, embora já utilizado em larga escala na nossa região. E o cenário dramático de perdas expressivas de solo por erosão era algo ainda muito presente no cotidiano dos produtores. Estava bem clara a importância da palhada e do não-revolvimento do solo. Porém, como encaixar culturas que pudessem oferecer rentabilidade sem comprometer a produção de palha? 

Visando enfrentar esses desafios, foi implementado em 1989 esse ensaio, testando diferentes sistemas de rotação/sucessão de culturas, todos em sistema plantio direto (Tabela 1). Desde então, o solo nunca mais foi revolvido, e as sequências permaneceram inalteradas, por 35 anos. Como pode ser observado, os sistemas testados têm diferentes níveis de diversidade de culturas, assim como de objetivos.

Tabela 1. Sistemas de rotação de culturas avaliados no ensaio desde 1989.

Resultados do ensaio – Produtividade de grãos

Nesse ensaio, as principais culturas a serem consideradas quando se tem o objetivo de avaliar o impacto da rotação sobre a produtividade de grãos são o trigo e a soja. 

O trigo foi a cultura mais afetada pelos diferentes sistemas de rotação de cultura. No sistema trigo-soja a produtividade do trigo foi inferior na maior parte das safras quando comparada com a produtividade do sistema 2 e 4. Esse efeito é um reflexo principalmente da maior ocorrência de patógenos que se multiplicam nos restos culturais, como é o caso dos patógenos causadores de doenças como o mal-do-pé e manchas foliares. 

A produtividade da soja foi afetada também pela rotação de culturas, no entanto o efeito na soja depende do período considerado. De 1989 até 2006, na grande maioria das safras avaliadas a soja apresentou menor produtividade de grãos no sistema trigo-soja em comparação com os sistemas mais diversificados. Por outro lado, a partir de 2006 essa diferença não foi mais observada. O principal fator que explica esse fato é a entrada da ferrugem asiática da soja e o início do uso de fungicidas na cultura. Com o uso de fungicidas, a maioria das doenças de final de ciclo também passaram a ser controladas. No entanto, é interessante observar também que a partir de 2016 essa diferença retornou, ou seja, a produtividade de soja foi superior nos tratamentos 2 e 4 em comparação com o sistema 1 (trigo-soja). 

Cabe ressaltar que nos últimos 10 anos houve uma evolução muito grande no potencial produtivo das variedades de soja, que se tornaram mais precoces, mais produtivas, e, consequentemente, muito mais exigentes. Se tornou comum também a ocorrência de outras doenças que permanecem nos restos culturais, como é o caso da Macrophomina e do mofo branco. Esses resultados mostram claramente a importância de um estudo de longo prazo para esse tipo de avaliação. Dependendo do período considerado, a conclusão pode ser totalmente diferente.  No entanto, ao considerarmos o cenário completo, é muito claro que o sistema pode beneficiar a produtividade da soja quando é mais diversificado, principalmente sob condições de alto potencial produtivo. 

 

Qualidade do solo: Aprendizados importantes

A qualidade do solo (ou saúde do solo) é um fator fundamental a ser considerado nos sistemas agrícolas. É sempre importante relembrar que o solo é o principal patrimônio que o produtor possui. Se não houver qualidade no solo, não há produção, não há rentabilidade e, consequentemente, não há produtor. 

A qualidade física do solo em função dos diferentes sistemas de produção está sendo avaliada e há diversas variáveis que precisam ser consideradas e que estarão relacionadas com a capacidade de armazenamento de água e ambiente para crescimento de raízes. Nesse momento, foi usada a avaliação de densidade do solo para ter um panorama geral da física do solo avaliado. Os sistemas com alfafa e azevém apresentaram valores mais favoráveis, embora essa resposta seja dependente da profundidade avaliada. O maior aprendizado nesse caso é a importância de culturas com grande volume de raízes, como é o caso da alfafa e do azevém. 

A qualidade química do solo foi influenciada principalmente pelo manejo de adubação e correção utilizado. De modo geral, foi possível observar aumentos nos teores de fósforo (P), potássio (K) e enxofre (S) nos sistemas onde houve maior adição desses nutrientes, como é o caso do sistema 6. Com relação ao K, há em geral maior concentração desse nutriente nas camadas mais superficiais nos sistemas com milho na rotação. Esse efeito é bem conhecido, uma vez que o milho normalmente extrai altas quantidades de K em diferentes camadas, porém exporta uma pequena fração da quantidade extraída. Desse modo, a palhada se decompõe e o K fica concentrado na superfície. Tal dinâmica foi visível ao abrir a trincheira: as raízes de milho se desenvolvem a camadas superiores a 1,5m de modo que reciclam este K de camadas profundas.

A acidez do solo foi corrigida periodicamente, sempre que a análise de solo indicava a necessidade de calagem. A correção foi feita de maneira individualizada para cada tratamento. Foi possível observar que alguns sistemas com grande aporte de adubação nitrogenada, como é o caso do sistema 5, com azevém anualmente, a acidez está em níveis elevados, mesmo com as correções comumente realizadas. De modo geral, o que se observa é uma relação direta da adubação nitrogenada sobre a acidificação, o que confirma de maneira clara que esse é o principal fator a ser considerado na acidificação do solo em sistema plantio direto. 

A qualidade biológica do solo tem sido avaliada mais recentemente. A avaliação de enzimas no solo (arilsulfatase e betaglucosidase) tem sido amplamente utilizada para aferir a qualidade do solo do ponto de vista biológico. Nesse ensaio, a avaliação dessas enzimas (Figura 4) indicaram maiores níveis de arilsulfatase nos sistemas mais diversificados. Por outro lado, quando se observa a betaglucosidase, o sistema 6 (alfafa-milho) foi superior aos demais. De modo geral, a concentração de betaglucosidase se relaciona diretamente com a dinâmica de C e N no solo. 

Uma das informações mais importantes desse estudo é o estoque de carbono (C) no solo. A importância desse dado é pelo fato de que a dinâmica de C no solo reflete praticamente todos os parâmetros de qualidade do solo. Carbono está intensamente relacionado a aspectos físicos, químicos e biológicos do solo. Em geral, houve grande diferença no estoque de C do solo. Os sistemas alfafa-milho (6) e ervilhaca-milho-aveia-soja-trigo-soja (2) apresentaram maiores valores de C no solo. Isso está relacionado à grande atividade biológica que é observada nesses sistemas, tanto pela maior diversificação (sistema 2) ou pelo grande aporte de N e crescimento radicular constante (sistema 6). 

Portanto, considerando a qualidade do solo, os sistemas que apresentaram melhores resultados foram o sistema 2 (ervilhaca-milho-aveia-soja-trigo-soja) e o sistema 6 (alfafa-milho). 

Rentabilidade – Sustentabilidade econômica do sistema

Um dos grandes objetivos desse projeto sempre foi avaliar a rentabilidade em longo prazo. Esse tipo de projeto fornece informações muito importantes para avaliação do resultado financeiro ao considerar uma perspectiva de longo prazo, sob influência portanto de diversos fatores políticos, econômicos climáticos. Os resultados financeiros nos mostraram que há diferenças importantes dependendo do recorte histórico. Esses resultados isolaram apenas os sistemas exclusivos para produção de grãos. De modo geral, foi observado que, principalmente no período em que não houve grandes diferenças na produtividade de soja em função do sistema, o sistema 1 (trigo-soja) foi o mais interessante do ponto de vista econômico, entre 2004 e 2018. Esse período se destacou também pelo mercado de soja normalmente muito mais favorável que outras culturas, como milho e trigo. Importante observar, no entanto, que nos últimos 4 anos, que foi um período de alta rentabilidade para todas as culturas, o sistema 4 (aveia-milho-trigo-soja) foi o mais rentável. 

O resultado econômico mostra claramente a importância de ter mais colheitas por ano, que é o que ocorre no sistema trigo-soja. Este sistema tem 2 colheitas visando rentabilidade por ano, ao passo que os demais sistemas têm valores menores deste indicador. Importante ressaltar que foi essa uma das principais preocupações dos pesquisadores em 1989: Como garantir menor dependência da safra de verão para ter mais rentabilidade de forma sustentável. 

Considerações Finais

Ao observar os dados de rentabilidade acumulada do ensaio, é possível chegar a uma conclusão simples e fácil: O sistema trigo-soja foi o que gerou maior rentabilidade e, portanto, é o sistema mais adequado. Também é possível chegar a outra conclusão simples e fácil: Como o solo é o maior patrimônio do produtor, e o sistema que garantiu melhor qualidade do solo foi o sistema alfafa-milho, então esse é o melhor sistema. Ou, considerando apenas produção de grãos, poderia indicar o sistema ervilhaca-milho-aveia-soja-trigo-soja. O fato é que essas conclusões não estão corretas. 

Com esse ensaio, foi possível aprender alguns conceitos importantes que precisam nortear qualquer sistema de produção, principalmente para produção de grãos em SPD. A importância de ter raízes vivas no sistema a maior parte do tempo é um exemplo. O sistema alfafa-milho, embora inviável em larga escala, mostra claramente os benefícios para o solo ao ter uma leguminosa que permanece viva no solo desenvolvendo raízes e aportando N. Outro exemplo é a diversificação de espécies, garantindo que resíduos culturais de uma cultura sejam decompostos antes de essa cultura retornar. Isso garante estabilidade na produção, algo que não foi observado no sistema soja-trigo em alguns períodos. Outro conceito importante, como comentado acima, é a necessidade de ter em média pelo menos 2 colheitas/ano para ter bons resultados financeiros.

Portanto, não é possível definir de maneira fácil ou simples qual o melhor sistema. Afinal, estamos falando de muitas variáveis, em um sistema complexo que é influenciado por muitos fatores. A decisão da sequência de culturas deve ser tomada com base primeiramente no ambiente. Conhecer o tipo de solo, a aptidão, o clima, o histórico, o cenário político-econômico e as oportunidades da região são questões fundamentais que precisam ser consideradas. 

A intensificação sustentável dos sistemas tem se mostrado como o caminho mais promissor para aliar rentabilidade com qualidade do solo. É importante destacar que atualmente há tecnologias que não existiam em 1989 e que possibilitam trabalhar com 2 culturas no verão, por exemplo. É importante que ao intensificar o sistema, a qualidade do solo seja sempre monitorada e esforços são necessários para garantir a sustentabilidade do sistema. Minimizar ao máximo o período de pousio é um dos pontos cruciais para o sucesso nesse modelo. Ao olhar os sistemas 2, 3 e 4, por exemplo, é possível pensar em alternativas para aumentar a quantidade de colheitas por ano, potencialmente melhorando a rentabilidade do sistema. 

O sucesso financeiro de uma propriedade sempre será altamente dependente da qualidade do solo. Mas se o produtor não tiver rentabilidade, dificilmente ele terá condições de investir na qualidade do solo. Portanto, o fundamental é que a propriedade tenha um sistema que permita entrar em um ciclo virtuoso, onde alta rentabilidade em médio e longo prazo permita investimentos que favoreçam a qualidade do solo. Com mais qualidade do solo, é natural esperar maiores níveis de produtividade, alavancando ainda mais a rentabilidade. Alguns caminhos para chegar a esse patamar são os principais aprendizados desse ensaio, que sem dúvida nenhuma ainda terá muito a nos ensinar. 

Estratégias para o manejo da resistência de doenças e plantas daninhas a agroquímicos

 

Por meio da simples rotina de observar a propriedade rural, o produtor e/ou a assistência técnica têm ajudado a Fundação ABC na identificação dos principais gargalos na qualidade e produção de grãos, assim como na elaboração de melhores hipóteses a serem estudadas a cada nova safra. Entre estes relatos, afirmações como “o produto ficou fraco” e “o produto está perdendo a eficiência de controle” se destacam entre as demais demandas, pois evitar a resistência de doenças, pragas e plantas daninhas aos mais diversos métodos de controle (químico, biológico, genético, etc.) é considerada uma estratégia crucial para toda a cadeia de produção. Desta forma, a realização e priorização de boas práticas agrícolas com foco no manejo da resistência a agroquímicos foi o assunto principal dos setores de Fitopatologia, Herbologia e Agrometeorologia, durante o 27º Show Tecnológico de Verão, realizado em fevereiro de 2024 no Campo Experimental de Ponta Grossa.

Qual é a finalidade e o principal desafio no manejo da resistência a agroquímicos?

A finalidade do manejo da resistência aos agroquímicos é prevenir ou postergar ao máximo o acúmulo de indivíduos resistentes dentro de uma população alvo (insetos-praga, fungos, plantas invasoras). Desta forma, as populações de um organismo que nunca foram expostas a um agroquímico serão completamente suscetíveis devido à baixíssima frequência de gene de resistência dentro desta população-alvo. O desafio está centrado na redução da pressão de seleção para resistência mantendo um nível adequado de proteção da cultura. Assim, torna-se necessário o conhecimento dos mecanismos da resistência, os riscos de seleção de populações resistentes aos agroquímicos, os fatores chave envolvidos, e as estratégias e táticas de controle. Em caso de dúvida, consulte sempre o seu engenheiro agrônomo!

Como está o cenário de fungicidas com relatos de resistência pela ferrugem da soja?

A alta variabilidade genética e adaptabilidade da ferrugem da soja demanda atenção especial da pesquisa em Fitopatologia da Fundação ABC, assistência técnica e do produtor rural no manejo da ferrugem da soja. Além das sugestões contidas no item anterior, preconizamos outro conjunto de ações para mitigar o manejo da resistência aos agroquímicos, como a manutenção do vazio sanitário, eliminação das plantas hospedeiras, planejamento de fungicidas em função da previsão climática (El Niño geralmente resulta em maiores perdas de soja por falta de controle da ferrugem), época de semeadura, escolha dos cultivares, rotação do modo de ação de fungicidas, e associação de fungicidas protetores (multissítio) aos sítios específicos (triazóis, estrobilurinas, carboxamidas, etc).

Em 2007, aproximadamente 5 anos após a utilização de triazóis, surgiram os primeiros relatos de perda de eficácia desses ativos. Depois de mais 5 anos, em 2012, foi a vez das estrobilurinas, sendo constatada resistência genética nas populações do fungo, e o caso mais rápido ocorreu na safra 2015/16 com o grupo das carboxamidas (FRAC). Em resumo, a ferrugem da soja atualmente apresenta mutações que conferem resistência quantitativa aos três principais grupos químicos de fungicidas sítio-específico. Todos precisamos estar atentos às práticas agrícolas citadas acima. Dados sumarizados do setor de Fitopatologia da Fundação ABC demonstram a importância da utilização dos fungicidas protetores e/ou multissítios nas aplicações desde a fase reprodutiva da soja, proporcionando incremento significativo no controle da ferrugem da soja na ordem de 30%, o que resultará ao final do ciclo na manutenção do teto produtivo da cultura.

O conhecimento da previsão climática para a safra seguinte é de suma importância, apesar de não poder ser controlada, é essencial para determinar as estratégias de manejo. Em safras em que há a ocorrência do fenômeno atmosférico oceânico conhecido como El Niño, caracterizado por um aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico e presente durante a safra 2023/24, apresenta condições favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem da soja, com maior severidade quando comparado a anos com La Niña. Esse cenário pode ser justificado devido a algumas características, como a ocorrência de um inverno menos rigoroso (anos de El Niño), com ausência de geadas, como durante a safra de inverno 2023, aumentando consideravelmente a quantidade de inóculo inicial presente em sojas guaxas e perenes logo no início da semeadura de áreas comerciais.

Outro fator importante, é a frequência e distribuição das precipitações associadas a temperatura do ar mais elevadas, proporcionando condições ambientais favoráveis para o processo de infecção do fungo na superfície da folha. O intervalo (mínimo 4 horas) entre a aplicação e a ocorrência da chuva após a aplicação do fungicida é um componente fundamental para o bom manejo da Ferrugem da Soja.

E no caso da resistência de plantas daninhas, como caruru aos herbicidas, qual é o cenário no Grupo ABC?

Segundo o setor de Herbologia, o caruru (Amaranthus hybridus) mereceu destaque nesta edição do Show tecnológico de Verão, por se tratar de um biótipo resistente e determinados grupos de herbicidas, como por exemplo o glifosato e aos herbicidas inibidores da ALS. No que diz respeito a plantas daninhas, a identificação do alvo e o conhecimento da biologia da planta é extremamente importante, principalmente tratando-se de uma espécie/biótipo de planta resistente, como é o caso do caruru, onde algumas características são fundamentais e, o entendimento destas, irá auxiliar na melhor estratégia de
manejo, como por exemplo:

1) A velocidade de desenvolvimento da planta, que se tratando de caruru pode apresentar um crescimento de 3 a 4 cm por dia, sendo este um ponto de atenção importante para aplicação no momento correto, do melhor herbicida e na dose recomendada para garantir o sucesso de controle desta planta.

2) Produção de até 200 a 600 mil sementes por planta, indicando que o controle deve ocorrer no início  do desenvolvimento da planta para evitar a proliferação de novas populações.

3) Alto potencial de competição com a cultura de interesse, podendo chegar até 2 metros de altura, reduzindo ignificativamente o potencial produtivo da cultura de interesse. De maneira geral, o controle de plantas daninhas não ocorre apenas com uma aplicação, mas através do sistema de manejo integrado com uma boa dessecação das áreas na pós-colheita e pré-semeadura das culturas, plantio das culturas no limpo com adoção de herbicida residuais (préemergentes) que é a principal ferramenta que nós temos
no cenário da resistência do caruru e também de outras espécies de plantas daninhas resistentes aos herbicidas que incidem sobre as áreas cultivadas, promovendo o desenvolvimento inicial das culturas no limpo, evitando a perda de potencial produtivo por mato competição, além de reduzir o banco de semente das plantas infestantes, bem como facilitar o controle do pós-emergente aplicado sobre a cultura evitando o aumento de dose e a ocorrência de fitotoxicidade, auxiliando na obtenção de áreas mais limpas.

 

Como a Agrometeorologia pode ajudar no manejo da resistência a agroquímicos?

uso de tecnologias de aplicação que propiciem ganhos de eficiência na cobertura e penetração do volume de calda, a escolha de formulações adequadas, a definição do modo de aplicação para cada alvo agrícola, além da redução da variabilidade espaço temporal da concentração do ingrediente ativo pulverizado sobre os alvos de interesse agronômico são estratégias válidas e essenciais
no manejo da resistência aos agroquímicos.

Contudo, o atendimento a alguns conceitos agrometeorológicos pode ser decisivo no resultado do controle, mitigando o risco de seleção de indivíduos resistentes a agroquímicos e até mesmo otimizando o tempo de vida de alguns produtos. Podemos dividir estes conceitos em 3 tipos de informação: a climatologia, o monitoramento e a predição de fatores diretamente relacionados com o controle de alvos agrícolas.

1) Climatologia aplicada ao planejamento do período trabalháveis= séries históricas de até 20 anos originadas na rede de estações automáticas em superfície foram processadas com o intuito de estabelecer um período do dia mais favorável para a operação de pulverização de agroquímicos, com foco nos cultivas de verão. Dados processados nas estações meteorológicas da Fundação ABC indicam que o período mais favorável ocorre entre as 6 e 11 horas.

 

2) Monitoramento agrometeorológico aplicado ao manejo da resistência = durante a pulverização, os principais fatores atmosféricos a serem observados para uma boa pulverização são:

• temperatura do ar = influencia diretamente no potencial de evaporação da gota e na atividade fisiológica das plantas= ideal entre 1 O e 30ºC
• umidade relativa do ar = influencia diretamente no potencial de evaporação da gota = ideal acima de 60% (presença de orvalho pode diluir o agroquímico, causar escorrimento ou aumentar a fitotoxicidade pela combinação com a radiação solar)
• velocidade do vento = evitar momentos de calmaria e/ou inversão térmica, assim como ventos intensos que resultam em risco de deriva = ideal entre 3 e 8 km/h.
• na prática, alguns autores sugerem o uso de algumas tabelas com combinações de temperatura e umidade, com sugestões de classes de gotas (Tabela 1):

3) Monitoramento e previsão de curtíssimo prazo das áreas de instabilidade atmosférica= o uso de imagens de radares meteorológicos dopplers em tempo quase real, a cada intervalo de 10  minutos, associada a possibilidade de tracking das áreas de instabilidade e desenvolvimento de modelos de previsão em curtíssimo prazo é chamado de nowcasting. O uso destas informações ajuda a planejar a pulverização com antecedência de poucas horas, visando garantir um intervalo de pelo menos 4 horas sem chuva após a pulverização.

4) Identificação e quantificação das perdas de agroquímicos por lavagem da chuva= conhecido pelo nome de rainfastness, esta linha de pesquisa visou identificar as perdas de agroquímicos e o estabelecimento dos intervalos mínimos sem chuva após uma pulverização (horas). Entre os resultados principais, observa-se na Figura 6 perdas do agroquímico da ordem de 20 até 60% no tratamento de 4 horas sem chuva, em relação ao tratamento sem a incidência de precipitação. Nestes casos, também foram observadas tendências significativas e diretas entre o intervalo sem chuva após a pulverização com a eficiência no controle do alvo agrícola, assim como com as maiores produtividades, principalmente em cenários de maior incidência do alvo agrícola.

5) Desenvolvimento de modelos matemáticos para estimativa do período residual = uma vez que a calda de pulverização foi depositada sobre o alvo, no caso das plantas, os mecanismos de absorção, evaporação, degradação e perda do agroquímico são influenciados por fatores ambientais. Com base nesta afirmação, hipóteses científicas foram elaboradas, com o intuito de identificar quais fatores ambientais influenciam estes processos, além do desenvolvimento de modelos matemáticos para auxiliar a tomada de decisão sobre os intervalos de reentrada. Os resultados se mostraram muito promissores, com alta concordância entre os valores de perda de agroquímicos preditos versus os estimados (Figura 7).

6) Operacionalização dos modelos de perda de agroquímicos (%) e estimativa do período residual (dias) na plataforma sigmaABC = a partir dos resultados obtidos por meio da realização de experimentos entre 2008 e 2017, associados a aplicação de técnicas estatísticas e computacionais, os modelos desenvolvidos foram inseridos na plataforma digital desenvolvida pela Fundação ABC chamada sigmaABC (Figura 8). Ou seja, após o planejamento e recomendação de agroquímicos, ao realizar a data dentro do sigmaABC o produtor cooperado “recebe” em troca uma opção
de “simulação” dentro do menu de avaliações de campo, onde é possível acompanhar o resultado do período residual estimado por 5 modelos matemáticos, que levam em consideração a variação dos fatores atmosféricos após a pulverização do agroquímico para estimar os processos de absorção, evaporação, degradação e perda.

 

 

Arenas foram o grande destaque do Show Tecnológico Verão

Foi o maior comentário. Não tinha uma conversa durante e após o evento que deixasse escapar um elogio às arenas preparadas pelo time de Pesquisa da Fundação ABC. O novo formato agradou em cheio, não só os visitantes como também os representantes das marcas que estavam presentes nesta edição. O destaque foi para a Arena 2, onde os setores de Solos, Fitotecnia e Economia Rural abriram uma trinchei­ra de 30 metros junto ao ensaio de Plantio Direto que tem 35 anos, e que ainda contou com a presença ilustre de Hans Peeten, que idealizou o ensaio no fim dos anos 80.

Devidamente acomodados em uma arquibancada, os visitantes assisti­ram a uma apresentação feita pelos pesquisadores, junto com Hans, mos­trando os impactos do modelo produti­vo no solo, através de rotações de cul­turas, com informações importantes sobre o manejo do solo. “Não existe nenhum estudo científico deste porte e desta longevidade no mun­do”, disse Hans Peeten.
Segundo Helio Antônio Wood Joris, coordenador do setor de Fitotecnia e Sistemas de Produção e um dos pesquisa dores que apresentou na are­na, a ideia de fazer a trincheira foi bem­ vinda, porém a dúvi­da era de que seria necessário cavar um buraco grande, para mostrar o perfil de todo o ensaio sem danificá-lo, pois os estudos naquele espaço conti­nuariam depois. “Foram mais de 80 metros cúbicos de terra retirados e durante o trabalho de escavação não vou negar que veio a dúvida se todo aquele esforça valeria a pena. Mas quando começamos a ver as raízes aparecendo no perfil, com as diferen­ças de tratamentos bem visíveis, vi­mos que valeu muito a pena todo o esforço dedicado, não só para o visi­tante do show, mas também para nós pesquisadores”, avaliou.
Nas outras duas arenas da fundação, o público também lotou as arquibanca­das, nos horários de apresentação. Na Arena 1, o tema foi “Desafios e concei­tos no manejo de resistências dos fun­gos e plantas daninhas”. William Kuff, pesquisador no setor de Herbologia, explicava que não é o herbicida que provoca a resistência, mas que a varia­bilidade genética natural das plantas possuem resistência ao principio ativo do herbicida e ao se reproduzirem, novas plantas imunes surgem no lugar daquelas que foram extintas.

Na sequência, Edson Giovanni Kochinski, coordenador e pesquisador do setor de Fitopatologia, apontava as preocupações no manejo da ferrugem asiática na soja e sobre a importância de monitorar a favorabilidade da doença no período que antecede o plantio, na intenção de mitigar a pressão durante a safra. Explicava também como é o favorecimento da doença em anos de El Nino e La Nina.

 

 

“Não existe nenhum estudo cientrfico deste porte e desta longevidade no mundo”, disse Hans Peeten, referindo-se ao ensaio de 35 anos de plantio direto, instalado no CDE Ponta Grossa-PR

Neste momento, entrava Rodrigo Yoiti Tsukahara, coordenador e pesquisador do setor de Agrometeorologia, apresentando um trabalho de rainfasteness, feito pela instituição, para verificar o quanto aquela chuva após uma pulverização ‘lava’ o fungicida aplicado e quanto tempo é necessário para que a planta absorva por completo o princípio ativo. Por fim, William e Giovanni retornavam com sugestões de manejo para plantas daninhas e doenças. O último ainda sugeria uma ação mais geral, desde a escolha da época da semeadura, passando pela variedade até a mistura de produtos de forma racional. ‘Não tem nada de milagroso. É questão de manejo e de conhecimento, que é a peça-chave para enfrentar a resistência dos fungos e plantas daninhas aos produtos que temos disponíveis’, disse Giovanni.

Já na Arena 3, o tema central foi o manejo da cigarrinha-do-milho. Os setores de Forragens & Grãos, Entomologia e Mecanização Agrícola e Agricultura de Precisão (MAAP) iniciavam a apresentação contextualizando a importância da cultura do milho dentro do grupo ABC, a produção brasileira e em seguida abordavam sobre a cigarrinha-do-milho, que tem sido a limitação mais preocupante no cultivo, de momento. Explicaram sobre a praga, os danos causados pelos molicutes e vírus, as estratégias de manejo e sobre os trabalhos realizados na fundação quanto a tecnologia de aplicação de inseticidas, assim como a rede de ensaios de genótipos. ‘Entre as diferentes ferramentas de manejo, a tolerância genética ainda é a principal, e por isso, a escolha de um híbrido com maior tolerância aos enfezamentos é muito importante’, enfatizou Elderson Ruthes, coordenador do setor de Entomologia, que dividiu a apresentação com os colegas Evandro Maschietto (Forragens & Grãos) e Fabrício Povh (MAAP).

Edição comemorativa:

A 27ª edição abriu as comemorações dos 40 anos da Fundação ABC, que serão completadas em outubro deste ano. De acordo com a organização, passaram pelo CDE Ponta Grossa cerca de 4.250 pessoas, representando mais de 880 mil hectares.

Em pesquisa feita com 200 entrevistados, esta edição atingiu as melhores notas desde que a avaliação começou a ser adotada. Segundo Sílvio Bona, coordenador de Marketing na fundação, na escala de NPS (Net Prompter Score), o show atingiu 96,15%, dentro da zona de encantamento. ‘Estamos usando esta metodologia internacional para medir a qualidade dos nossos eventos. E a edição de verão sempre ficou dentro desta zona, mas esta foi a porcentagem mais alta que já obtivemos. Um sucesso!’, completou.

Ariel Rickli, agricultor em Ponta Grossa (PR), disse que vem todos os anos para se manter atualizado. ‘Este é um evento que tem muita informação nova e isso me ajuda no dia a dia da minha propriedade’. Marinus Tenis Hagen Filho, produtor em Arapoti (PR), disse que participar deste evento é de suma importância, por conta das novas tecnologias e ferramentas para o manejo. ‘O conhecimento é uma bagagem que vai só acumulando. Ninguém tira de você. Só vai deixando você melhor naquilo que faz’, concluiu.

Avaliação da fundação

No dia seguinte ao evento, Luís Henrique Penckowski, gerente Geral da Fundação ABC, comentou que esta tinha sido uma das melhores edições do Show Tecnológico, com base nos comentários e elogios que recebeu por parte dos produtores e demais visitantes. ‘De início, a ideia das arenas era para ser apenas para este ano, que é uma edição especial por conta dos 40 anos da fundação. Mas tamanho sucesso já coloca este novo formato como definitivo para as próximas edições’, disse.

Para Peter Greidanus, diretor-Presidente da Fundação ABC, o Show Tecnológico Verão é o ponto alto da difusão do conhecimento, realizado pela instituição. ‘Mas é fato que isso ocorre durante o ano todo com centenas de reuniões junto aos técnicos, produtores e parceiros, nas diferentes áreas de atuação. E aqui, no show, ocorre a grande reunião, em que pessoas de diferentes regiões se encontram para trocar experiências e buscar informações atualizadas junto ao nosso time de pesquisa. Só temos que agradecer a todos que vieram nos prestigiar’, encerrou.