O milho (Zea mays) é uma das plantas forrageiras mais utilizadas no processo de ensilagem, por apresentar características intrínsecas que permitem boa fermentação e conservação da massa ensilada, além da alta produtividade de massa seca por hectare, tecnologia de cultivo e bom valor nutritivo para os animais.
A área de milho no grupo ABC para a produção de silagem é de aproximadamente 35 mil ha, os produtores do grupo compõem uma das maiores bacias leiteiras do Brasil, sendo que no ano de 2022, o mês de julho registrou mais de 2,5 milhões de litros de leite coletados por dia, de acordo com o Pool Leite (entidade que representa os produtores das cooperativas Castrolanda, Frísia, Capal e demais na região).
Dentre as práticas de ensilagem, a silagem da planta inteira de milho é a forma de alimento padrão mais utilizada pelas propriedades. A sua prática é estabelecida no corte da planta de milho entre 20 a 30 cm de altura, no entanto, a cada ano as silagens são produzidas com técnicas mais aprimoradas e compreender outras modalidades de silagem são ferramentas importantes que podem agregar na diversificação da alimentação do gado bovino de leite.
Entres as principais modalidades de ensilagem de milho, podemos destacar:
Silagem de grão úmido (SGU), somente grãos;
Earlage: silagem de espiga com grãos+sabugo;
Snaplage: silagem de espiga com grãos+sabugo+palha da espiga;
Toplage: silagem de planta inteira com corte da planta próximo ao pedúnculo da espiga;
Silagem de planta inteira (SPI 60), corte da planta a 60 cm de altura do chão;
Silagem de planta inteira (SPI 20), corte da planta a 20 cm de altura do chão;
Trabalhos foram realizados pela Fundação ABC caracterizando as principais modalidades: silagem com corte “tradicional” (20 cm do chão), silagem com corte “alto” (60 cm do chão), Toplage (corte abaixo da espiga) e as silagens de espiga: Earlage, Snaplage e Grão Úmido.
É importante destacar que as três primeiras modalidades de silagem, utilizam partes da planta e não só da espiga, conforme figura 1. O ponto de corte é estabelecido pela matéria seca da planta inteira, o ideal está em torno de 30-35% de matéria seca.
Figura 1. Participação de partes da planta em três diferentes silagens de planta inteira.
Já para as modalidades de silagem de espigas: Snaplage, Earlage e Grão Úmido, figura 2. O ponto de colheita é definido pela umidade dos grãos e o ideal está em torno de 35% de umidade (maturidade fisiológica da planta).
Figura 2. Participação de partes da espiga em três diferentes silagens.
Nas figuras 1 e 2, é possível observar e diferenciar qual modalidade tem maior participação das partes da planta de milho (SPI 20) até a com menor participação (SGU) e quando analisamos os dados de produção de massa verde, a silagem de planta inteira “tradicional” foi a que resultou em maior produção de massa verde (69.981 kg ha-1), Figura 3. Fato já esperado e confirmado, uma vez que corresponde a maior participação das partes da planta, a produtividade de massa verde foi maior. O mesmo comportamento é verificado quando observamos os dados de massa seca (Figura 4) e para a silagem de grão úmido é a que tem menor produção (12.281 kg ha-1), pois só tem a participação dos grãos.
Figura 3. Produtividade de massa verde (kg.ha-1) das diferentes silagens.
Figura 4. Produtividade de massa seca (kg.ha-1) das diferentes silagens.
Nas figuras 5 e 6 estão apresentados os teores de fibras (FDA – Fibra em Detergente Ácido e FDN – Fibra em Detergente Neutro) de cada modalidade de silagem, a medida que a participação dos componentes folha e colmo vão aumentando nas diferentes silagens, os teores de fibra vão aumentando também.
Figura 5. Fibra em Detergente Ácido – FDA (%) das diferentes silagens.
Figura 6. Fibra em Detergente Neutro – FDN (%) das diferentes silagens.
O inverso acontece com o componente amido (Figura 7), que resultou em maiores teores na silagem de grão úmido (72%) até 30% na silagem de planta inteira corte “tradicional”. O comportamento da DIVMO, que estima a digestibilidade total de cada silagem, variando de 88% a 75% (Figura 8).
Figura 7. Porcentagem de Amido das diferentes silagens.
Figura 8. Digestibilidade in Vitro da Matéria Orgânica (DIVMO) das diferentes silagens.
Considerações
As diferentes modalidades de silagem têm suas características especificas e sua utilização deve ser adaptada a realidade e necessidade de cada propriedade;
Maiores informações favor entrar em contato com o setor de Forragens & Grãos.
Franke Dijkstra
Nos primeiros anos de agricultura, nos Campos Gerais, parecia que estávamos no caminho certo. Mas essa sensação durou pouco, pois o cultivo no sistema convencional, com duas safras anuais e muitos preparos, trouxe sérias consequências.
Os múltiplos preparos estavam destruindo o nosso solo, o que nos fez pensar em muitas opções como terraceamento e até murunduns. Pensamos também na possibilidade de construirmos patamares, como faziam os antigos Incas. Mas todos estes métodos deixavam o solo desestruturado, comprometido!
Na época, as três cooperativas ABC (Capal de Arapoti, Batavo de Carambeí e Castrolanda, de Castro), através de suas comissões agrícolas decidiram contratar um técnico com conhecimento de novas técnicas para resolver os problemas que limitavam nossa continuidade na atividade. Assim, procuramos Hans Peeten, agrônomo recém-formado na Holanda, que logo aceitou o desafio para conosco buscar uma solução. Ele já era figura conhecida nossa. Já em 1972, Hans Peeten ainda como estagiário, passou por nossa região através da empresa HOWARD ROTAWETER, da Inglaterra, e em várias propriedades demonstrou um equipamento de plantio com enxada rotativa.
Na época, as cooperativas contavam somente com o Departamento Técnico da Cooperativa Central de Laticínios (CCLPL). Compreensivelmente, este setor estava mais focado nas áreas pecuárias (leite, aves e suínos). Para atender as necessidades dos agricultores foi então criado o departamento agrícola central, formado por um coordenador, um especialista em conservação de solos e um entomologista, além da presença do agrônomo Hans Peeten. A CCLPL atendia também muitos pequenos pecuaristas em Irati, inclusive com uma área de fomento, o que fez com que a cooperativa considerasse que Hans Peeten fosse o homem certo para este caso.
Os pequenos produtores precisavam aperfeiçoar suas tecnologias e foi recomendado para vários deles o uso de calcário. Mas eles não tinham as ferramentas/equipamentos, para espalhar o calcário. Isto motivou os agricultores, que tinham problemas muito mais urgentes, a reivindicar a criação de um DAT- Departamento de Assistência Técnica, específico para atender as necessidades do setor agrícola. Assim, surgiu a ideia da criação de uma instituição subordinada aos agricultores. Nasceu, então, a Fundação ABC, com orientação do setor jurídico da Central, gerenciado por Dick Carlos de Geus.
Na época foram transferidos da CCLPL para a fundação ABC o especialista em conservação de solos e um fitopatologista, sendo que o coordenador não concordou com a transferência. Nós, produtores, pedimos que o agrônomo Hans Peeten também fosse integrado a Fundação ABC. Optamos por iniciar algo sem influências de outros interesses. Um crescimento de baixo para cima.
As primeiras áreas testadas em nossa região foram na fazenda de Manoel Henrique Pereira, mais conhecido pelo apelido: Nonô. Em seguida, na fazenda de Henrique Antônio de Geus e de Rodolfo João de Geus, todos já falecidos. Em Castrolanda, na propriedade de Wibe de Jager. Não se tinha na época conhecimentos de como controlar as ervas, o que impossibilitou a continuidade dos trabalhos.
Logo no início da fundação, Hans implantou um Campo Experimental com diversas culturas de inverno e no verão, no sentido contrário com as culturas da época. Com e sem adubo e ou herbicidas para pesquisar o benefício destas culturas sobre as subsequentes.
Deste experimento nasceram as melhores ferramentas para um plantio direto sustentável. Foi a base dos avanços posteriores. Uma pesquisa que convenceu os produtores e possibilitou a implementação de um sistema de rotação de culturas adaptadas às condições regionais. Este tipo de campo experimental comparativo foi adotado por produtores de todo o estado do Paraná por permitir avaliação regionalizada de desempenho de cada cultura.
O agrônomo holandês, com suas ideias revolucionárias, foi o motor de arranque para a integração entre os agricultores, pesquisadores e assistência técnica, motivando muitos produtores interessados em um novo rumo para a agricultura dos Campos Gerais. Isso gerou ciúme entre os técnicos e alguns desses técnicos chegaram a proibir Hans de publicar suas ideias e tecnologias, por tratar-se de técnicas que não estavam escritas, poderia ser algo muito perigoso, também pelo fato dele não ter o registro de agrônomo, o que não lhe permitiria escrever assuntos técnicos. Pois as ideias foram além dos conhecimentos, foram pela imaginação, e foram muito além e hoje são técnicas testadas e aprovadas, afirmavam os enciumados.
Vale ressaltar a contribuição dada pela indústria de equipamentos agrícolas que acompanhou a evolução do sistema de plantio direto adaptando máquinas e implementos às necessidades dos produtores; às indústrias de fertilizantes, defensivos e controles de pragas, que desenvolveram produtos adequados para atender as exigências do sistema.
E claro, reconhecer a grande contribuição da FUNDAÇÃO ABC, uma instituição do setor privado, sem imposições políticas, atendendo diretamente o interesse dos produtores, que acompanhou todos os passos do desenvolvimento do plantio direto, formando equipes de pesquisadores especializados e hoje atende a grande necessidade do grupo, como sonhavam todos desde o início.
Aqui a chuva não mais preocupa. É sempre bom conhecer as filosofias escritas, mas como a natureza é dinâmica devemos sempre estar abertos a novos rumos para nos adequar às necessidades de cada época. A pesquisa regionalizada foi a ferramenta do desenvolvimento do plantio direto e logo foi adotada em todas as regiões do Estado do Paraná. Fato que pude constatar na última viagem que realizei por nosso estado, no ano passado.
Avançamos muito, mas precisamos ter em mente que não podemos estacionar no estágio alcançado, mas continuar buscando novas tecnologias, respeitando a natureza e não pensando somente no lucro a ser obtido, mas em produção duradoura. A meta é uma troca justa do homem com a terra.
O pesquisador holandês, que trouxe a técnica do plantio direto para a região dos Campos Gerais, que depois ganhou o Brasil todo e atualmente é a referência número 1 quando se fala em conservação do solo, foi visto pelos corredores do Show Tecnológico Verão e dias depois também na sede da Fundação ABC, em Castro-PR.
Quem não o conhece, nem imagina que aquele senhor, de chapéu australiano, camisa xadrez e bengala é o responsável, juntamente com produtores aqui da região, por uma grande transformação nas lavouras de todo o Brasil. Segundo a Federação Brasileira do Plantio Direto, estima-se que mais de 90% das áreas agricultáveis do país adotam a técnica. Mas quem o conhece, não perde a oportunidade de cumprimentá-lo, conversar e, claro, tirar uma foto.
Peeten também foi um dos idealizadores da Fundação ABC, que ano que vem completa 40 anos. Atualmente ele reside na Holanda, onde é consultor na área de cultivo de batata e finaliza um trabalho de fomento da cultura no continente africano. “Vocês não têm ideia das condições em que povo planta naqueles países. E ver a mulher da família feliz com o resultado da colheita e investindo na educação dos filhos é algo formidável”, contou ele a um grupo.
Com frequência, o pesquisador aparece no Show Tecnológico Verão. Ficou ausente apenas durante a pandemia. “Eu gosto de vir aqui para ver como estão as coisas e buscar novas informações e conhecimento”, disse.
Tanto é que dias depois do evento, ele pediu uma hora na agenda dos pesquisadores da fundação, o que foi uma satisfação para ele em recebê-lo. “Para nós é uma alegria tê-lo em nosso meio. Não só para contar a história que originou tudo o que vivemos aqui em nossa região, mas também como fonte de informação do que está ocorrendo lá fora, nos países da Europa. É beber direto da fonte da experiência”, comentou Luís Henrique Penckowski, gerente Técnico de Pesquisa na fundação.
A Assembleia Geral Ordinária (AGO) acontece anualmente para aprovação das contas da instituição. No dia 23 de março de 2023 foi realizada a reunião no auditório da Fundação ABC, com presença dos membros dos conselhos e delegados que representam as mantenedoras para aprovação do novo Conselho Fiscal, com gestão até março de 2024 e das contas de 2022.
O Diretor-Presidente, Peter Greidanus, conduziu a sessão acompanhado do primeiro Diretor-técnico, Emiliano Carneiro Klüppel. Foi apresentada uma chapa única e foi eleita por unanimidade. Os conselheiros são: Luiz Henrique de Geus e Carlos Eduardo Los, ambos da Cooperativa Frísia, Edson Roberto Freire e Marcio Carneiro Gomes, da Castrolanda, e Ronaldo Zambianco e David Koopman da Capal. Confira no box abaixo a composição.
Elmir Groff, que deixa o a presidência do conselho, explica o quão valioso é o trabalho da Fundação ABC. “Durante este ano que estive presente na diretoria do conselho pude acompanhar de perto o trabalho realizado pela instituição . Hoje admiro ainda mais a honestidade, transparência e seriedade que é feito tudo aqui dentro”, comentou.
A nova formação do Conselho Fiscal – mandato de 1 ano
Luiz Henrique de Geus – Frísia
Edson Roberto Freire – Castrolanda
Ronaldo Zambianco – Capal
Carlos Eduardo Los – Frísia
Marcio Carneiro Gomes – Castrolanda
David Koppman – Capal
Aprovação de Contas
O desempenho de 2022 foi aprovado pelos delegados representantes das três cooperativas mantenedoras também por unanimidade. O balanço geral e prestação de contas foi apresentado pela gerente administrativa da Fundação ABC, Sandra Mehret Rebonato.
“Fazendo um balanço geral dos trabalhos realizados pela Fundação ABC podemos afirmar que 2022 foi um ano bastante positivo. Obtivemos excelentes resultados, onde apresentamos um crescimento de 15,7% quando comparado ao ano anterior. Os investimentos totais somaram mais de R$ 7 milhões, sendo aplicados em infraestrutura como máquinas e equipamentos”, comentou Sandra.
A gerente ainda destacou que a Fundação ABC cresce pela busca incessante da informação junto com a eficiência das equipes presentes dentro da instituição. Além dos investimentos realizados, esse resultado reflete no crescimento financeiro e na consolidação na busca pela vanguarda tecnológica com eficiência. “Vale lembrar também que muito desse crescimento é devido ao comprometimento de toda a equipe da Fundação ABC, cuja soma dos esforços aplicados resultam na melhora dos índices a cada ano”.
O gerente técnico de pesquisa, Luís Henrique Penckoswki apresentou o relatório de atividades de pesquisa da Fundação ABC, mostrou a evolução dos resultados e já antecipou alguns dados deste ano.
Durante a avaliação referente ao ano de 2022, o diretor presidente da Fundação ABC, Peter Greidanus, comentou sobre a colaboração das cooperativas. “Em conjunto com as mantenedoras pudemos definir por uma ampliação no escopo e intensidade na experimentação e desenvolvimento da cultura da Cevada. Esta é uma demanda presente em função da construção da Maltaria Campos Gerais. Isso se traduziu na prática em um significativo aumento nos protocolos de pesquisa com esta cultura” complementou Peter Greidanus, diretor presidente da instituição.
O diretor presidente também pontuou a reestruturação do antigo LabEF, que ganhou novo nome. “O Laboratório de Proteção de Plantas e Bioinsumos” (LabP²Bio), vem visando organizar e difundir os inúmeros trabalhos e estudos já realizados ao longo dos anos, bem como dar mais foco a esta nascente e importante segmento da indústria de insumos para a agricultura, o qual tem suscitado inúmeras perguntas por parte de técnicos e produtores”, finalizou Peter.
Ao final, na palavra livre, o diretor presidente da Frísia, Renato Greidanus comentou as expectativas criadas. “Acreditamos que o time da Fundação ABC está prestando ótimos serviços e devemos fortalecer ainda mais essa equipe, para que juntos possamos avançar”, comentou Renato.
Castro, 31 de março de 2023
por Bhya Zarpellon